Juventude no século XXI: dilemas e perspectivas

Juventude no século XXI: dilemas e perspectivas de Heloisa Dias Bezerra e Sandra Maria Oliveira (orgs.)

Resenha por Edwiges Conceição Carvalho Corrêa

Participação política entre jovens: reinvenções e utopias.

Esta obra organizada por Heloisa Dias Bezerra e Sandra Maria de Oliveira trata da temática da participação política da juventude. Essa tem provocado inúmeros questionamentos e estudos por parte de acadêmicos e organizações nacionais e internacionais. Há sempre a tentativa de identificar elementos de mobilização e politização no comportamento juvenil em suas variadas nuances no âmbito institucional – identificado em várias pesquisas como arcaico e desacreditado pelos jovens – e, principalmente, em outros espaços de integração e socialização, como grupos religiosos, culturais, de ação voluntária, e outros. Na sociedade brasileira, no período de redemocratização, a juventude ganhou especial destaque, ao receber direito de voto aos dezesseis anos, podendo ser percebida como um agente importante no contexto das mudanças políticas.
Este livro trata dessa temática a partir de artigos de pesquisadores contemplando discussões atuais e relevantes sobre a juventude brasileira. Nos artigos que o compõem são tratados temas e enfoque teóricos que tratam do ativismo político juvenil e do empoderamento de grupos que estão ou não alinhados ao sistema político-partidário, assim como a adesão e a apatia dos eleitores jovens em relação aos sistemas eleitorais institucionalizados. Trata também da discussão em torno do papel do Estado na fomentação e execução de políticas públicas pertinentes a essa fase etária.
No prefácio, escrito pela professora da UFG, Dalva Borges de Souza, evidencia-se que o livro é importante para aqueles que pretendem compreender a juventude contemporânea, sobretudo neste momento da vida política brasileira, renovada inclusive pelas manifestações de junho de 2013. Pode-se considerar que o livro traz pistas para a compreensão desse momento de efervescência, desconstruindo o estereótipo da juventude apática e desinteressada à participação política. Interessante frisar que os artigos que compõem esta coletânea partem de pesquisas empíricas realizadas em várias cidades e em espaços de atuação diversos. Também estão desprovidos de interpretações pré-concebidas em que a juventude é tratada com saudosismo, cobranças e censuras.
Conceição Firmina Seixas Silva e Lucia R. de Castro, a partir de pesquisas empíricas com jovens da cidade do Rio de Janeiro que participaram de projetos comunitários, fazem uma análise sobre a falta de motivação dos jovens pela política em ambientes institucionalizados.  Para sustentar a tese de que apenas a participação institucional é insuficiente para a compreensão do ativismo político, as autoras fazem um histórico do campo de atuação político juvenil no Brasil desde o processo de abertura política até a inserção nos chamados novos movimentos sociais. A inserção da participação juvenil em “grupos fluidos” na área da educação, meio-ambiente e cultura, se encaixa nos anseios da juventude de se distanciar das formas convencionais de participação política. O ambiente não hierarquizado desses grupos é muitas vezes fomentado pelos próprios jovens e visa atender demandas locais e atuação por diversas causas. Para tanto o trabalho contempla duas análises, sendo a primeira de discussão sobre o cenário social e político latino-americano cujas condições possibilitaram o surgimento de ativismos fora das formas instituídas de participação, e a segunda  dedicada à relação entre juventude e política no atual contexto social brasileiro, focando em ativismos não convencionais.
Paula Novaes Ramos observou como o poder pessoal e o poder social podem se manifestar perante o que se pode definir como “ajuda” no desencadeamento de um processo de empoderamento pela via da autoexpressão diante das condições materiais. O estudo foi feito tendo como referencial o projeto “Músicos do Varjão” que objetivava fomentar a autoexpressão dos participantes de forma integrada visando fortalecer a afirmação dos jovens em um cenário democrático. Visava também, fortalecer a identidade da comunidade, bem como sua autoestima.   A discussão teórica se norteia na noção de poder social desenvolvida por Max Weber que parte do pressuposto de que a autoexpressão de individualidades não se configura egoísmo ou individualismo. A autoexpressão seria assim uma forma de manifestar o empoderamento de indivíduos e grupos através da expressão política e da arte, sendo também responsável pela interação de segmentos sociais de níveis sócio-políticos diferenciados, com diferentes acessos a bens e recursos. A autora discute teoricamente as diferenças entre os conceitos de “cuidado” e “ajuda” para a compreensão do processo de empoderamento.

Edwiges Conceição Carvalho Corrêa Professora da Faculdade de Direito da PUC-GODoutoranda em sociologia pela PPGS-UFG