Líder jovem Guarani-Kaiowá.

A educação dos jovens Guarani e Kaiowá e sua utilização das redes sociais na luta por direitos.

 A importância das redes sociais nas Aty Guasu e a luta dos povos indígenas

 
Historicamente, a manifestação e as reivindicações dos povos indígenas pelas efetivações de seus direitos e, sobretudo, pela defesa e recuperação de seus territórios tradicionais são apresentadas na grande mídia e na internet como atos altamente violentos, perigosos e ilegais. É importante destacar que estas representações e descrição dos indígenas acabaram se tornando a visão dominante, que é generalizada e divulgada de forma naturalizada pela mídia. Mas as lideranças indígenas idosas tinham dificuldades de contrapor essa divulgação.
Diante desses fatos, em 2011, um grupo de jovens estudantes Guarani e Kaiowá, a pedido da assembleia geral dos povos indígenas (Aty Guasu) Guarani e Kaiowá, formou uma comissão dos líderes jovens para contrapor e desconstruir as informações tendenciosas sobre os povos indígenas, divulgando as situações atuais e as demandas efetivas dos indígenas em situações de conflito fundiário. Uma das iniciativas recentes dos jovens indígenas é o uso das redes sociais em favor das demandas antigas de seus povos.
Para contrapor e desconstruir as informações tendenciosas da mídia dominante sobre os indígenas, os jovens Guarani e Kaiowá começaram a utilizar as redes sociais, através do Facebook e de blogs. A partir de 2011, um grupo de jovens indígenas criou o endereço eletrônico do Aty Guasu no Facebook (página que já possui mais de 5.000 mil amigos e amigas). Esse endereço se tornou um boletim informativo direto tanto dos jovens como das lideranças Guarani e Kaiowá dos territórios em conflito do Mato Grosso do Sul. Hoje, este endereço virtual em rede (através do Facebook e em blogs) é um canal de divulgação importante de informações diretas das comunidades indígenas dos territórios em conflito, que telefonam, enviam e-mail e procuram os membros da comissão dos jovens indígenas, informando-lhes seus problemas, os ataques de pistoleiros, ameaças sofridas etc. Assim, tanto os jovens quanto as comunidades indígenas das terras em conflito esperam que seus problemas sejam amplamente conhecidos, sobretudo esperam que possa haver providências de autoridades responsáveis.
Um dos principais objetivos da criação do endereço da assembleia geral indígena (Aty Guasu) na rede social é divulgar as informações efetivas e integrais, contextualizando-as, apresentando-as pelos próprios indígenas atingidos. Dessa forma, nesse endereço são traduzidas e disponibilizadas pelos jovens indígenas as notas públicas das lideranças indígenas, os documentos escritos destinados às autoridades, as petições, as fotos, os vídeos resultantes de encaminhamentos das lideranças indígenas, socializando as concepções, os motivos, as posições dos indígenas. Além disso, os conteúdos divulgados neste endereço do Aty Guasu no Facebook e em blogs são exclusivamente de autoria dos indígenas e ficam acessíveis a todos os povos indígenas e não-indígenas que acessam a internet. Constantemente são feitos informativos atualizados pelos jovens indígenas.
É fundamental destacar que após a criação e administração desse endereço eletrônico pelos jovens indígenas no Facebook para expressar as opiniões, posições e demandas das lideranças indígenas, a causa do povo indígena Guarani e Kaiowá ganhou imensa repercussão na internet.
É importante destacar, ainda, que ao longo de todo o ano de 2012, através de seu endereço virtual, as lideranças indígenas, através dos jovens indígenas, divulgavam diretamente as violências promovidas pelos fazendeiros contra o povo Guarani e Kaiowá dos territórios em conflito. Em decorrência dessa divulgação frequente, que relatou muitos acontecimentos de violência e assassinato de indígenas nas redes sociais, milhares de cidadãos(ãs) do Brasil acrescentaram “guarani e kaiowá” como os seus sobrenomes nas redes e foram organizados e promovidos atos no dia 9 de novembro de 2012 em diversos estados do país, tornando-se uma manifestação nacional, também realizada por brasileiros em outros países, em prol da luta dos Guarani e dos Kaiowá.
Como é possível perceber, essa repercussão iniciada pelos jovens indígenas foi algo inédito não só para o contexto de Mato Grosso do Sul, mas também para todo o país e mesmo para fora dele. Isso reverteu o fato de a grande maioria dos brasileiros ainda desconhecer a situação atual dos indígenas Guarani e Kaiowá naquela federação do país. Na sequência, ao longo do ano de 2012, houve uma ampla solidariedade aos Guarani e Kaiowá de uma parcela significativa dos brasileiros, o que foi muito importante para a luta dos indígenas pela efetivação de seus direitos básicos e pelas recuperação das terras tradicionais. Isso porque as demandas e situações efetivas dos Guarani e Kaiowá dificilmente eram (e são) divulgadas de forma detalhada pela grande mídia local e nacional.
É verdade que, em decorrência dessa repercussão, se por um lado os ataques e assassinatos pararam de ocorrer, por outro houve também a geração de mais ódio entre os políticos e fazendeiros que atuam contra os povos indígenas de Mato Grosso do Sul. Esses adversários históricos dos indígenas na disputa pelas terras passaram a reagir de forma mais enérgica, agora através de investimento em políticas anti-indígenas e na tática de ignorar ou atacar as demandas dos indígenas divulgadas de modo amplo até o momento. Isso é o que se constata através da crescente pressão política feita em todos os espaços (Câmara dos Deputados Federais, Congresso Nacional, jornais etc.) por fazer reverter os direitos que foram garantidos através da Constituição Federal de 1988. Por fim, importa destacar que no dia 5 de outubro de 2013, a Constituição Federal completou 25 anos, mas os direitos indígenas constitucionais não estão sendo efetivados. Diante dessa situação, as articulações dos jovens indígenas, juntamente com as lideranças idosas, participaram da Mobilização Nacional Indígena realizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

Tonico Benites tonicobenites2011@hotmail.com

Tonico Benites, Ava Verá Arandú, é indígena Guarani e Kaiowá, tradutor e porta voz da Assembléia Geral (Aty Guasu) do povo Guarani e Kaiowá. Licenciado em Pedagogia pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Mestre e Doutor em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional/UFRJ. Desde 2013 é professor na Faculdade Intercultural Indígena, da Universidade Federal da Grande Dourados.