“Caminos al trabajo: el mundo laboral de los jóvenes durante la última etapa del gobierno kirchnerista”, de Mariana Busso e Pablo Pérez (Coordenadores).

Resenha por Verónica Millenaar

 

O mundo do trabalho dos jovens na Argentina: tempos de balanços

 

Por que falar sobre a entrada dos jovens no mercado de trabalho na última etapa do governo de Kirchner especificamente? Não há dúvida de que o livro coordenado por Mariana Busso e Pablo Pérez – reunindo pesquisas e reflexões de um grande grupo de pesquisadores – propõe, a partir de seu título, um exercício de análise e balanço apropriados ao cenário que se começa a construir na Argentina após as últimas eleições presidenciais.

 

Em dezembro de 2015, o país fecha um ciclo político e começa a mudar com a posse de um novo presidente, cujo discurso e proposta forçam a diferenciação com o programa do governo anterior. O livro, a fim de caracterizar o estado atual do problema do emprego dos jovens, busca traçar um balanço sensato sobre uma década caracterizada pelo crescimento do emprego e pela melhoria significativa dos indicadores do trabalho e bem-estar social da população. O que aconteceu com o emprego dos jovens nos últimos anos? Que efeitos produziram as políticas de promoção do emprego e de conclusão do ensino implementadas no período? Quais as evidências sobre a incursão de jovens ao trabalho mostram as pesquisas recentes?

 

“Caminos al trabajo” deve ser lido como uma continuação do livro anterior dos autores, no qual eles propunham que o período após a crise econômica de 2001-2002, na Argentina, havia iniciado um ambiente propício à melhora do cenário de emprego dos jovens. No entanto, apesar da diminuição do desemprego e da informalidade, o problema do trabalho dos jovens subsistiu, devendo ser abordado com novas estratégias analíticas para observar mais profundamente as formas de desigualdade (setorial, territorial, de origem social e gênero).

 

A nova publicação dos autores retoma a linha de pesquisa iniciada no livro anterior, ao mesmo tempo que aponta mais fortemente a necessidade de dividir o período analisado em dois: a fase de crescimento pós-crise (2003-2007) e a fase de crescimento mais lento, com variações e novas exigências, iniciada a partir de 2008. “Caminos al trabajo” revisa este segundo período especialmente, retomando as discussões mais específicas que parecem emergir: por que padrões de precariedade laboral e espaços de desemprego persistem para grupos específicos de jovens? Quais as características das trajetórias biográficas dos jovens nesta nova etapa? Quais os efeitos produzidos pelas políticas implementadas para promover o emprego e o término do ensino, que buscaram dar resposta à problemática mencionada?

 

A escolha do título do livro diz respeito ao esforço para trazer à luz diversos conteúdos temáticos, bem como diferentes perspectivas teóricas e metodológicas. A imagem suscitada pelo termo “caminho” não se refere apenas ao “mapa” de formas de entrada no emprego para os jovens, mas também aos diversos percursos subjetivos implícitos nesses caminhos, assim como à construção de vias alternativas a partir da intervenção estatal, quando essas trajetórias se tornam sinuosas e cheias de obstáculos. Assim, o termo refere-se ao “mapa”, trajetos e construções desde a intervenção.

 

1 – O “mapa” dos caminhos ao trabalho

 

Num primeiro ponto do livro, a partir do eixo “Jóvenes y mercado de trabajo” (“Jovens e mercado de trabalho”), dois artigos são dedicados a caracterizar a dinâmica geral de emprego dos jovens no período. O ponto de partida é a evidência de que o contexto dos últimos anos trouxe mudanças benéficas para a integração ao trabalho. Redução do desemprego, crescimento de atividade e de produto, recuperação dos salários, mudanças nas leis trabalhistas e a tendência para a formalização da massa de empregados são alguns dos traços revelados em indicadores sociais e do trabalho, nos anos recentes. No entanto, o artigo de Camila Deleo e Mariana Fernandez Massi tem como objetivo compreender a lacuna de emprego entre as gerações: por que, num contexto de crescimento econômico, os jovens não se beneficiam da mesma forma que os adultos? O artigo mostra que o grupo de jovens é super-representado em atividades mais precárias. Melhorias no nível e qualidade do emprego foram mais intensas no grupo de adultos, reforçando a diferença com o grupo de jovens.

 

O artigo de Pablo Pérez, desta seção, aborda outra forma persistente da desigualdade, que não foi revertida apesar do crescimento do emprego: a disparidade entre os sexos. O artigo mostra as diferenças contrastantes entre o grupo de homens e mulheres, bem como a ligação negativa entre baixos níveis de educação, emprego precário e falta de serviços de cuidados, que resultam em aumento da vulnerabilidade para o grupo de mulheres jovens em condição de pobreza. Ao usar dados quantitativos da EPH (2003-2014) e da Pesquisa Nacional da Juventude INDEC (2014), os dois primeiros artigos são valiosos para o campo de estudos da juventude por apresentarem informação estatística atualizada que descreve suas condições de trabalho. Em particular, a obra de Pablo Perez torna-se um material indispensável para aqueles que procuram incorporar a perspectiva de gênero neste campo de estudo; perspectiva nem sempre priorizada por aqueles que investigam estas questões e que requer visões complexas que vinculam o gênero com outras formas de desigualdade (Millenaar, 2014).

 

2 – Maneiras de percorrer os caminhos até o trabalho e no trabalho

 

Num segundo ponto do livro são apresentados os artigos do segundo eixo – Juventudes, subjetividade e mundo do trabalho –, bem como do quarto eixo – Juventudes, trabalho e política. No grupo de artigos incluídos nestas seções, a abordagem teórica e metodológica procura compreender mais plenamente o contexto referido, se aproximando mais das experiências desses jovens e dando prioridade a uma abordagem – acordada como estratégia pertinente para esse campo (Jacinto, 2010) – que liga as subjetividades juvenis às condições estruturais.

 

Que traços são reconhecidos nos percursos, estratégias e experiências de jovens, tanto em seus processos de entrada no trabalho como no emprego, uma vez já inseridos? Esta questão é abordada desde várias perspectivas e temas. Camila Deleo e Pablo Pérez, por exemplo, concentram o seu artigo nas estratégias utilizadas na procura de emprego por jovens de diversas origens sociais, nível educativo e experiência de trabalho. O artigo mostra como estratégias de busca se ampliam quando se têm níveis mais elevados de educação e maior experiência no trabalho. Por sua parte, o artigo de Mariana Busso aborda experiências juvenis de precariedade laboral, a partir da autopercepção da juventude sobre seus primeiros empregos. O artigo mostra que, embora partilhada entre jovens de origens sociais diferentes, a autopercepção sobre a permanência ou a descontinuidade desta condição varia de acordo com a realidade socioeconômica dos jovens: aqueles com rendas mais elevadas percebem que a inserção mudará com o tempo, mas instrumentalmente a escolhem no presente pelas oportunidades flexíveis que oferece. Assim, a autora argumenta que por trás de uma ampla e diversificada realidade do trabalho precário existem mecanismos claros de reprodução das desigualdades e segmentação entre o grupo de jovens. Maria Eugenia Longo, em seu artigo e também com base em um estudo longitudinal nos dois trabalhos anteriores, analisa a visão compartilhada sobre o que significa se tornar um adulto. Assim, a partir de diferentes perspectivas, são abordadas experiências e estratégias juvenis em seus caminhos para o emprego.

 

Dois outros artigos investigam os debates sobre as experiências do emprego entre jovens, uma vez inseridos no mercado laboral, em particular no que diz respeito à experiência política e de sindicalização. O artigo de Anabel Beliera e Julieta Longo dá conta das discussões existentes sobre a participação dos jovens nos sindicatos, bem como dos sentidos de ser jovem nos grêmios. Por sua vez, o artigo de Mariana Chaves e Carlos Galimberti, a partir da análise de trajetórias de militância gremial no peronismo, analisa a socialização política dos jovens no período de governo de Kirchner; contribuindo assim, a partir de uma perspectiva diferente, para dar corpo à análise dos caminhos no trabalho.

 

3 – Construção de caminhos ao trabalho desde a intervenção estatal

 

Um último ponto do livro analisa uma série de programas destinados a promover o emprego e o término do ensino, implementados nos últimos anos como estratégia de intervenção do Estado para acompanhar e apoiar os jovens. Que características adquiriram as políticas dos últimos anos?

 

Os artigos desta seção analisam e refletem sobre as formas institucionais e estaduais para apoiar o caminho dos jovens ao emprego. O artigo de Federico González centra-se no Plano Fines2, de término do ensino, colocando o foco sobre as disposições educacionais de jovens beneficiários e os significados da participação nesse dispositivo. Na sequência, o artigo de Gonzalo Assusa e o de Marina Adamini e Brenda Brown focalizam o Programa Mais e Melhor Trabalho, da Secretaria do Trabalho, Emprego e Segurança Social. Ambos os artigos, a partir de uma perspectiva crítica, investigam sentidos e legitimações que perpassam o programa, em relação à sua estratégia de ação e em relação a conhecimentos e competências que no mesmo se desdobram e, por vezes, fazem com que sejam invisíveis outros tipos de conhecimentos que os jovens têm.

 

Particularmente o artigo de Gonzalo Assusa mostra, a partir da análise das trajetórias de homens jovens, a incorporação do conhecimento laboral no âmbito das suas experiências de trabalho, analisando a interação complexa entre aprendizagens, disposições corporais e masculinidade. Tal interação molda os sentidos que afirmam e reforçam as disposições sociais que reproduzem a inserção no trabalho em determinados empregos entre os homens de setores populares. No caso do artigo de Marina Adamini e Brenda Brown, o olhar sobre o programa se relaciona com a análise do sistema de estágios universitários, apontando uma matriz argumentativa comum, com base em noções de teoria do capital humano, que fundamenta as ações de ambas as políticas. De alguma forma, o texto procura identificar pontos de continuidade entre as políticas recentes e aquelas dos anos 90, um aspecto que é relevante notar, ainda quando também se mostrou sua linha de intervenção inovadora ligada à orientação sócio-laboral (Roberti, 2016).

 

Pode ser observado, no decorrer de cada um dos artigos, a contribuição interessante de ‘Caminos al trabajo’ para fazer o balanço necessário ao fim de um ciclo e o início de outro. A partir de várias temáticas e perspectivas teóricas e metodológicas, cada um dos artigos contribui para a caracterização do problema do emprego juvenil nos últimos anos. As melhorias evidentes nos indicadores laborais e sociais são trazidas à tona por meio de olhares mais aguçados sobre a desigualdade persistente. Os percursos dos jovens para o trabalho e suas carreiras são abordados a partir de perspectivas diferentes, que levantam novos caminhos de investigação a percorrer. Políticas implementadas são analisadas ​​em relação às suas verdadeiras inovações, bem como em relação à apropriação que os próprios jovens fazem delas.

 

O livro mostra que, embora muito progresso tenha sido alcançado, ainda falta muito por fazer. A mudança da cena política, no entanto, indica que o saldo atual vai cobrar um sentido diferente, à luz das mudanças que possam vir a acontecer e que vão exigir novas revisões sobre a forma como foi abordado o problema do emprego dos jovens nos anos recentes.

 

Referências bibliográficas:

 

BUSSO, M.; PÉREZ, P. (Org.). Caminos al trabajo: el mundo laboral de los jóvenes durante la última etapa del gobierno kirchnerista. Buenos Aires: Miño y Dávila, 2016.

 

JACINTO, C. Introducción. Elementos para un marco analítico de los dispositivos de inserción laboral de jóvenes y su incidencia en las trayectorias. In: JACINTO, C. (Org.). La construcción social de las trayectorias laborales de jóvenes: políticas, instituciones, dispositivos y subjetividades. Buenos Aires: Teseo-IDES, 2010. p. 15-50.

 

MILLENAAR, V. Trayectorias de inserción laboral de mujeres jóvenes pobres: el lugar de los programas de Formación Profesional y sus abordajes de género. Trabajo y Sociedad, v. 17, n. 22, p. 325-339, 2014.

 

PÉREZ, P.; BUSSO, M. (Org.). Tiempos contingentes: inserción laboral de los jóvenes en la Argentina posneoliberal. Buenos Aires: CEIL CONICET; Miño y Dávila, 2014.

 

ROBERTI, E. Orientaciones para el trabajo en las recientes políticas de juventud. Revista Novedades Educativas, Buenos Aires, n. 306, jun. 2016.

 

Palavras-chave: juventude, trabalho, Argentina, subjetividade, políticas.

Data de recebimento: 20/11/2016

Data de aprovação: 25/11/2016

Veronica Millenaar veronicamillenaar@gmail.com Doutoranda em Ciências Sociais (Universidad de Buenos Aires - UBA), Mestre em Ciências Sociais (UNGS-IDES) e licenciada em Sociologia (UBA). Pesquisadora associada ao Programa de Estudos sobre Juventude, Educação e Trabalho (PREJET-CIS-IDES/CONICET).