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Juventude em rede: os sentidos que os jovens atribuem ao político e à política brasileira

Juventude, participação política e representações sociais em redes sociais

No decorrer dos anos, especialmente nas duas últimas décadas, a questão da participação juvenil na sociedade vem ocupando um lugar de significativa relevância no contexto das grandes inquietações mundiais, uma vez que,

Os jovens são sujeitos desses processos e interagem com eles algumas vezes como protagonistas e beneficiários das mudanças e por outras vezes sofrem os prejuízos de processos de modernização, produtores de novas contradições e desigualdades sociais (Carrano, 2012, p. 83).

No cenário mais recente, sobre diferentes enfoques de participação e concepções políticas, a juventude brasileira tem se destacado em movimentos decisivos para a sociedade, como: a) Em 1999 – Governo FHC, na luta contra os Pacotes de Privatizações; b) Em 2013, Jornadas de Junho, com o movimento “vem pra rua!” – em que a juventude tornou-se um furacão organizado contra o aumento da tarifa do transporte público brasileiro; c) No ano de 2016, Primavera Secundarista – luta contra o fechamento de escolas estaduais em São Paulo, ganhando posteriormente uma dimensão nacional com pautas de luta contra o sucateamento das escolas públicas2; d) e, ainda no ano de 2016, no golpe contra a Presidente Dilma Rousseff, a juventude sai às ruas em defesa da democracia (Gohn, 2018).

Destaca-se que, a partir de 2013, iniciou-se uma mudança expressiva nas formas de participação da juventude com o uso significativo das redes sociais como forma de mobilização e construção de sentidos sobre o próprio processo. O movimento construído a partir de mobilizações sociais por meio das redes sociais deu início a uma nova formação de ação e participação sócio-política.

O papel das transformações das formas de organização da participação da juventude na política do país por meio das redes ganha uma dimensão significativa na medida em que as mídias sociais podem modificar, de maneira no mínimo considerável, a forma como a sociedade passa a se relacionar com o conhecimento, pois,

Não há nenhuma esfera na sociedade moderna em que os meios de comunicação de massa não tenham algo para dizer. Nada escapa as lentes penetrantes que tange as relações individuais e sociais. As trocas simbólicas praticadas no seio da convergência digital assumem um papel fundamental ancorado no alicerce da informação social. A comunicação torna-se o mecanismo básico para a concretização das trocas simbólicas e o conhecimento das atividades políticas e sociais na esfera pública (Trevisol, 2010, p. 12).

Assim, na medida em que a mídias sociais impulsionam as informações que circulam em nossa sociedade e as transformam em trocas simbólicas, pode-se dizer que as mídias têm uma forte influência na vida e na concepção da opinião de cada pessoa, tanto por seu campo de abrangência quanto pela maneira como as notícias são transmitidas. “A preocupação não é mais com o que é comunicado, mas sim, com a maneira com que se comunica e com o significado que a comunicação tem para o ser humano” (Alexandre, 2001, p.112).

No contexto atual, há um “bombardeamento” diário de informações, e a internet tem participado de forma decisiva na criação, modificação ou estabilização das atitudes e opiniões das pessoas. Trata-se de um canal em que as informações alcançam um grande número de sujeitos,e os sentidos que cada um dá em forma de apoio ou revolta e, até mesmo, reivindicações presentes nos discursos trazem as marcas das representações sociais que segundo Moscovici (1981, p.181) são “um conjunto de conceitos, frases e explicações originadas na vida diária durante o curso das comunicações interpessoais”.

Assim, na medida em que compreendemos o uso das mídias sociais como espaço de comunicações públicas e de trocas simbólicas, o presente artigo parte do princípio de que as redes sociais se constituem na atualidade como uma forma de circulação e produção de representações sociais, uma vez que a ação comunicativa dos sujeitos envolvidos nas mídias sociais expressam seus pensamentos sobre a realidade e suas experiências, construindo significados intersubjetivos que influenciam no processo de desenvolvimento da sociedade atual e consequentemente nos processos psicossociais.

Metodologia

Este estudo trata de uma pesquisa com o objetivo de analisar as representações dos jovens pesquisados sobre o contexto político/social e a perspectiva de futuro político do Brasil em ano de eleições presidenciais.

A opção pela representação social se fez pelo fato de que “elas circulam nos discursos, são carregadas pelas palavras, veiculadas nas mensagens e imagens midiáticas, cristalizadas nas condutas e agenciamentos materiais e espaciais” (Jodelet, 2001, p. 2). Ressalta-se, ainda com relação ao campo das representações, que as coisas ditas e expressas possuem significado além daquilo que é manifestado. Assim, a contribuição da teoria das representações para este artigo ocorre, principalmente, pela possibilidade de discutir a realidade da juventude como grupo concreto, construído historicamente e por ele mesmo, sendo assim, produto e processo das construções sociais que permeiam o universo juvenil como “um lugar social” paradoxalmente associado à apatia, à mudança e à tecnologia. Dessa forma, a pesquisa foi realizada fazendo uso de uma abordagem qualitativa, com enfoque nas representações sociais, a partir da observação dos perfis selecionados.

Os jovens participantes da pesquisa são naturais do município de Viseu, localizado no nordeste do estado do Pará, localizado a 314,5km de distância da capital Belém, às margens do rio Gurupi, fazendo fronteira com o estado do Maranhão. A seleção dos jovens baseou-se nos seguintes critérios: eleitores, nascidos em Viseu; estudantes do ensino médio ou do ensino superior; militantes de movimento social ou de grupos da igreja; todos com conta perfil no Facebook e que fizessem postagens sobre o contexto político/social, bem como sobre a perspectiva futura política do Brasil.

Assim, após prévia observação dos perfis, a fim de confirmar quem se encaixava nos critérios, identificou-se 10 jovens que foram convidados a participar da pesquisa. O convite foi feito aos jovens por meio do aplicativo Messenger e WhatsApp.

Após o convite, 5 jovens com idade entre 21 e 27 anos aceitaram participar da pesquisa, todos sendo naturais do município de Viseu, no entanto, 3 desses fazem graduação fora da cidade. Conforme mostra a tabela abaixo:

Tabela 1- sujeitos da pesquisa

Após a seleção dos sujeitos, os perfis foram observados sempre uma vez por semana no período entre janeiro e agosto de 2018. O tipo de observação escolhida foi a não participante, onde o pesquisador “presencia o fato, mas não participa dele; não se deixa envolver pelas situações; faz o papel de espectador” (Marconi; Lakatos, 2007, p. 90). No caso em questão, não realizamos nenhum tipo de manifestação diante das postagens de nossos entrevistados. Isso, porém, não quer dizer que a observação não ocorreu de forma consciente, dirigida e ordenada.

Em um processo sistemático, os perfis dos jovens foram observados e as postagens que abordam o tema da pesquisa foram destacadas e organizadas a partir dos campos de interesse, que são: o político; a política; o contexto político/social e a perspectiva de futuro político do país, para posteriormente realizarmos a análise e destaque das ideias centrais das postagens.

2 – A Primavera Secundarista foi um movimento de ocupações de escolas contra o projeto de reorganização do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A medida fecharia centenas de escolas estaduais, deixando salas de aula superlotadas e professores desempregados. A decisão foi revogada e mais de 590 escolas por todo o País foram ocupadas pelos estudantes contra o sucateamento da educação pública.
Elise do Socorro Gomes Barroso lisesgbarroso@gmail.com

Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Pará, Brasil. Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação de jovens e Adultos e Diversidade Amazônica.

Ana Paula Vieira e Souza paulladesa@gmail.com

Doutora em Educação. Docente na Universidade Federal do Pará, campus de Bragança, Brasil. Estuda as Infâncias da Amazônia paraense nas comunidades costeiras, tradicionais e quilombolas, Educação, Culturas.

Joana D’Arc de Vasconcelos Neves jdneves@ufpa.br

Doutora em Educação. Professora do Programa de Pós-Graduação em Linguagens e Saberes na Amazônia, Universidade Federal do Pará, Brasil. Pesquisadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação de Jovens e Adultos e Diversidade Amazônica.