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Mobilidade e autonomia na vivência de crianças urbanas: uma etnografia do parque público infantil

Análise dos registros: mobilidade e autonomia na vivência do parque infantil

A estrutura adotada para a análise dos registros estabeleceu três dimensões de análise:

a) dimensão adulto-criança: relações que são construídas no ambiente do parque entre grupos geracionais distintos, crianças e adultos (geralmente, os adultos eram os acompanhantes das crianças em suas idas ao parque), os limites de tempo e espaço impostos pelos adultos, a autonomia, as resistências e as transgressões das crianças;

b) dimensão criança-criança: relações entre pares (criança e criança), considerando as aproximações, os conflitos, as brincadeiras e o compartilhamento ou não de brinquedos e brincadeiras entre as crianças;

c) dimensão criança-espaço/equipamentos: a utilização dos espaços pelas crianças, sua mobilidade e a ressignificação pelas crianças dos equipamentos que estão disponíveis nesse ambiente.

As situações analisadas envolvem diferentes dimensões, mas são trazidas nesse estudo na perspectiva do que mais puderam ajudar na análise. Para tanto, foram selecionados alguns episódios para a discussão no âmbito do presente texto.

a) Dimensão criança-adulto

O aviso no interior do Parque Infantil 4 de que “todas as crianças devem estar acompanhadas por um adulto” anuncia a condição de dependência da criança perante o adulto no parque, alertando para a necessidade de proteção e segurança nesse espaço. A dependência da criança, pela sua condição de vulnerabilidade física, faz parte das representações sociais da infância na sociedade contemporânea que, historicamente, compreende a infância como um período de déficit de potencialidades e capacidades; portanto, associa a concepção de infância à ideia de desenvolvimento biológico e psicológico, universalizando o que é sócio e culturalmente diverso (GOMES; GOUVÊA, 2008).

Para analisar essa primeira dimensão, serão apresentados episódios de interação entre adultos e crianças, focalizando o eixo de discussão controle do adulto/autonomia da criança.

No Episódio 1, a criança solicita ao adulto sua permissão para se deslocar no parque, mas, mesmo obtendo a autorização do pai, só realiza o deslocamento com a companhia desse adulto, o que revela que a permissão pedida pela criança parece ser uma solicitação da companhia do pai para o seu deslocamento pelo parque.

Episódio 1
Um homem sentou-se num dos bancos do parque e posicionou, próximo ao banco, uma bolsa rosa e uma sandália de mesma cor. Após alguns minutos, possivelmente sua filha (que aparentava ter entre 4 e 6 anos de idade) vem sorrindo fazer-lhe uma pergunta:
– Papai, posso brincar no outro? (apontando para a gangorra)
O pai faz sinal positivo com a cabeça e a menina fica em pé em sua frente. Após alguns segundos, ela diz impaciente:
– Vai, papai! Levanta!
O homem sorri e coloca a bolsa nas costas, dirigindo seu olhar para a sandália. Após segurá-la em uma de suas mãos, ele estende a outra para sua filha e assim vão juntos para a gangorra.

Segundo Sabbag, Kuhnen e Vieira (2015), o fato de estar ou não acompanhada é um importante aspecto na caracterização da mobilidade e autonomia da criança. Alguns estudos vêm analisando a mobilidade infantil, considerando a licença ou permissão do adulto que a criança tem para se mover de forma independente no ambiente (MÜLLER, 2018; NETO; MALHO, 2004; O’BRIEN et al., 2000; SABBAG; KUHNEN; VIEIRA, 2015). Para O’Brien et al. (2000), o nível de mobilidade está muito relacionado às regras que os adultos, pais ou cuidadores definem para as crianças. Dessa forma, os adultos podem aumentar ou diminuir as possibilidades de exploração do ambiente pela criança.

Sabbag, Kuhnen e Vieira (2015) analisam resultados de estudos sobre a mobilidade infantil nas cidades, apontando fatores como os altos índices de violência, insegurança no tráfego de veículos, envolvimento de crianças e adolescentes com estranhos, que dificultam atitudes dos adultos mais permissivas em relação às crianças interagirem com o espaço urbano de forma mais independente.

As percepções que os adultos constroem sobre os espaços públicos têm relação com as próprias percepções das crianças. De formas diversas, adultos e crianças compartilham suas percepções que podem interferir umas nas outras. No episódio descrito, diante da permissão do pai que, por outro lado, não a estimula a se movimentar sozinha, a criança não exerce sua autonomia, mas requisita a presença do pai. Ressaltamos, nessa análise, a necessidade expressada pela criança da condução do adulto e a aceitação por esse dessa solicitação, parecendo que os limites para a mobilidade e autonomia da criança são consensuados entre esses dois atores.

No segundo episódio escolhido para essa análise, a mobilidade da criança é supervisionada pelo adulto, que procura intervir também no uso que a criança faz dos espaços e dos equipamentos do parque.

Episódio 2
Uma menina, que aparentava ter entre 6 e 8 anos de idade, aparece correndo em direção ao balanço, seguida por sua mãe. Em alguns instantes, a mulher tira da bolsa um celular e começa a fotografar a menina que sorri e faz poses para a foto. Após algumas fotos, a mãe guarda o celular em sua bolsa e se posiciona atrás da menina para empurrar a cadeira do balanço onde a criança havia sentado. Depois do primeiro empurrão, a mãe volta para a frente do balanço para fotografá-la mais uma vez, mas a menina parece se assustar com a altura e apenas segura firme no equipamento (sem olhar para o celular que tirava as fotos), parecendo aguardar a diminuição da velocidade do balanço. Assim que conseguiu colocar os pés no chão, ela, prontamente, desceu correndo e procurou sentar-se em outro balanço que tinha características mais adequadas às crianças menores, com um encosto nas costas, e diz:
– Esse daqui é muito mais melhor que não dá pra cair.
Nesse segundo balanço, ela consegue se balançar sozinha. Então, sua mãe apenas a observava, mas logo ela correu para a gangorra. Sua mãe rapidamente acompanhou e tentou auxiliar a criança no uso da gangorra, mas em pouco tempo a menina já alegou querer descer para ir à casa da árvore. Então, ela se dirigiu até lá. Nesse momento, sua mãe alertou que ela deveria subir pela escadinha, e ela assim o fez. Quando ela se posicionava para descer da casinha pelo balanço, sua mãe pede que ela espere um pouco e volte à escada para que tire uma foto ali. A menina logo põe a mão na cintura e sorri em direção à mãe. Depois da fotografia, ela desce do equipamento através do escorregador e se dirige à escadinha novamente, até que sua mãe pede para que dessa vez ela vá até a ponte para tirar outra foto, mas a menina se recusa. Então, a mãe pergunta se ela tem medo da “pontezinha” e ela logo responde que “não tem mais”. Em seguida, a menina correu novamente até a gangorra e sua mãe foi atrás. Ao chegar ao local, a menina pede que a mãe tire uma foto sua, utilizando aquele equipamento, e a mãe responde:
– Não, tá bom!
Mas ela insiste:
– Vai, mãe! Só uma.
E então a mulher tira uma foto rápida e guarda o celular.

O episódio mostra a mãe acompanhando e, de certa forma, direcionando o deslocamento da filha pelo parque, por meio das fotografias que faz da criança, ao sugerir lugares por onde a criança deveria locomover-se e formas de utilização dos equipamentos. Num primeiro momento, a criança parece aceitar essa forma de controle da mãe. No entanto, em seguida, a criança recusa-se a dar continuidade ao movimento monitorado pela mãe, que insiste e desafia a criança. Nesse momento, a criança apodera-se do dispositivo de controle do adulto – o telefone celular que tirava as fotografias – e retoma o controle do seu deslocamento.

A criança mostra-se capaz de construir táticas de resistência ao adulto, como nos aponta os estudos de Corsaro (2011), e, ao seu modo, impor formas de deslocamento e utilização dos tempos e espaços no parque. Müller (2006) também analisou atitudes de resistência numa turma da Educação Infantil, que revelaram que as crianças conseguem se fazer participantes e protagonistas na escola e, embora tendo uma autonomia relativa, elas conseguem romper com lógicas adultas:

Não se trata de romantizar a capacidade das crianças em tolerar determinações de tempo e espaço tão penosas (…), mas sim de entender como se tornam paradoxais algumas relações das crianças com seus pares e com os/as adultos/as durante os momentos de trabalho, de brincadeira, de frustrações, de fantasias. E, quando não conseguem lidar com certas imposições, resistem. É ilusão pensar que se pode controlar todas as manifestações infantis (MÜLLER, 2006, p. 570).

Sendo assim, como nos episódios apresentados, no tocante à interação entre adultos e crianças nos espaços do Parque Infantil, evidencia-se uma relação em que a presença do adulto determina fortemente a dinâmica de mobilidade autônoma das crianças. Apesar disso, as crianças mostram-se capazes de escolher e direcionar suas ações e modificar as lógicas adultocêntricas.

b) Dimensão criança-criança

Nas interações entre crianças, foram registrados três movimentos: relações de aproximação e compartilhamento de brinquedos e brincadeiras; relações de rejeição de uma criança em relação à tentativa de aproximação da outra e relações conflituosas entre as crianças. O Episódio 3 apresenta o primeiro desses movimentos, a busca de uma criança pela aproximação de outra criança.

Episódio 3
Enquanto um homem (possivelmente o pai da criança) pegava a bolsa de sua filha para saírem, apareceu uma menina (aparentando ter entre 5 e 7 anos) um pouco maior que a filha dele (que aparentava ter no máximo 5 anos) e falou, olhando para os dois:
– Eu sempre faço novos amigos quando eu venho no parque. (fala olhando para o adulto)
Os dois então olharam para ela, que após alguns segundos em silêncio, continuou:
– Eu tinha uma amiga, mas ela hoje não vem não. (fala olhando para a criança)
O pai segura a mão de sua filha e os dois permanecem de mãos dadas, em silêncio, observando a menina que estava na frente. Após alguns segundos em silêncio, a menina continua falando, dirigindo seu olhar para a filha do homem:
– Vem! Vamo brincar! (segurando a mão da menina que estava com o adulto)
Então as duas seguem de mãos dadas correndo até a gangorra, enquanto o pai as segue sorrindo.

Nesse episódio, ressalta-se o movimento de autonomia e independência da criança que procura o contato com outra criança que está com seu pai, justificando sua atitude com a menção a uma amizade anterior e propondo uma nova amizade. Também se destaca o pedido de permissão para a aproximação que a criança faz, dirigindo-se ao adulto e não à própria criança. Parece que a primeira criança compreende que precisaria ser autorizada pelo adulto, e não necessariamente por uma criança, para que houvesse a aproximação.

A potência da criança na agência das suas interações sociais e construção de culturas infantis é apontada por muitos autores como parte da própria concepção de criança (BELLONI, 2009; COHN, 2005; CORSARO, 2011; MAYALL, 2013; SARMENTO, 2004, 2005). O campo interdisciplinar dos estudos das infâncias compreende a criança pela sua capacidade de agência, ou seja, a criança é ativa na construção de suas interações e conhecimentos. Essa perspectiva contrapõe a ideia da criança passiva, cujo desenvolvimento segue a trajetória única de lhe transformar num adulto.

Indo além dessa afirmação, a criança é concebida como construtora de culturas. As culturas infantis que resultam das interações entre pares e da capacidade de ressignificar as lógicas adultas (CORSARO, 2011; SARMENTO, 2004, 2005). Essa abordagem implica numa nova forma de tratar a criança e seu desenvolvimento: como sujeito, tem direitos; como ser capaz, pode participar do meio social em que vive. Assim, deve ser vista e escutada.

No próximo episódio, observa-se uma tentativa do adulto de mediar a aproximação entre as crianças.

Episódio 4
Comecei a observar uma menina que brincava com a areia, debaixo de um dos balanços. Seu pai a observava em pé, bem próximo a ela, com uma bolsa vermelha nas costas. Ela não tinha nenhum brinquedo, brincava sentada na areia e usando as mãos. Até que se aproximaram um homem e um menino. Antes disso, notei que estavam de mãos dadas e o homem apontava para o balanço. Ao chegarem mais perto, o menino parou e ficou observando a menina. Ao vê-lo olhando para a menina, o pai dela fala:
– Olha, filha! Um amiguinho! Chame ele pra brincar!
Antes que ela falasse, o pai do menino interrompe:
– Vai lá, cara! Pergunta o nome dela.
O menino continuou parado e então, seu pai falou:
– Pergunta quantos anos ela tem!
O menino permaneceu calado, com os olhos atentos, observando-a.
Após alguns segundos, a menina responde, olhando para a areia e sem parar de brincar:
– 5 anos.
O pai do menino responde com admiração:
– Ah! Ele também tem 5 anos.
O menino se agachou e começou a imitar os movimentos da menina. Como ela não lhe deu atenção, ele levantou e saiu correndo, ainda sem falar nada. Imediatamente seu pai corre atrás.

Diferentemente do episódio anterior, a aproximação entre as crianças é intermediada pelos adultos. No entanto, o que se evidencia é que as crianças têm suas próprias regras e formas de aproximação das outras crianças e de compartilhamento das suas brincadeiras. As crianças não adotaram a forma adulta de se aproximar e interagir, mas de forma particular, olharam, calaram e, no momento delas, aproximaram-se e afastaram-se.

A criança, como Kohan (2005, 2010) nos ajuda a compreender, também tem uma lógica para vivenciar o tempo que, nesse episódio, fica muito claro o quanto se diferencia das lógicas adultas. De forma singular, as próprias crianças ajustam seus tempos e, indiferentes às tentativas de controle do adulto, coordenam a aproximação e o afastamento uma da outra.

No próximo episódio, vamos analisar a disputa entre as crianças pela liderança da brincadeira.

Episódio 5
Um menino e uma menina jogavam bola. O primeiro conseguia um maior controle da bola e do jogo. Ao perceber que perdeu o controle da bola, o menino avisa à menina que não está mais brincando. Ela continua correndo com a bola, quando a bola começou a ir em direção contrária a ela. O menino rapidamente corre em direção à bola, voltando a fazer parte da brincadeira. A menina, no entanto, foi mais rápida e retomou o controle da bola, então ele logo voltou a dizer que não estava mais brincando e sentou-se ao meu lado. Em poucos segundos, ficou em pé no banco em que eu estava. Então, começa a sussurrar e, em seguida, pula do banco. Ao saltar, fica agachado por um tempo, na mesma posição derivada do pulo, e continua falando consigo mesmo, só que agora nessa posição. Então, sua amiga grita à sua procura e ele diz:
– Não estou brincando!
Se referindo à brincadeira com a bola, e continua:
– Estou brincando de Peter Pan.
A menina ignora a informação e o avisa que a mãe dele tinha que ir para uma aula de dança e estavam aguardando-o. Após alguns segundos, ele levanta-se e a segue.

Observa-se que as crianças criaram regras e compartilharam uma brincadeira, até que o menino resolve sair, talvez porque estava em situação desvantajosa quanto à posse da bola, talvez porque foi uma menina quem estava liderando a movimentação.

Muitos estudos vêm focalizando as questões relacionadas ao gênero nas brincadeiras e indicam a predominância de estereótipos tanto nos papéis assumidos por meninos e meninas, como na utilização de brinquedos (FIAES et al., 2010; FINCO, 2003, 2010; PEREIRA; OLIVEIRA, 2016; KISHIMOTO; ONO, 2008; SAYÃO, 2002).

O presente estudo aponta para essa discussão, mas, como não teve em seus objetivos esse foco de análise, não produziu registros que permitissem penetrar numa análise mais densa da temática das relações de gênero na infância. No entanto, assinalamos que, assim como a concepção de infância é uma construção histórica inserida nas relações de poder do mundo adulto, compreendemos as relações de gênero como estando atreladas em relações de poder que são produzidas e reproduzidas na sociedade. Dessa forma, as diferenças entre meninos e meninas, homens e mulheres, são demarcadas nas e pelas práticas culturais que definem padrões comportamentais distintos de masculinidade e feminilidade que se inscrevem nos corpos e constroem as identidades de cada indivíduo. Sendo assim, a brincadeira, como uma prática cultural, revela uma complexa rede de poder que também se insere no processo de formação de gênero.

No episódio descrito, o menino parece desconfortável com a perda do poder do controle da bola. Por outro lado, a continuidade da brincadeira, mesmo solitária, é mantida pela menina, que parece desconsiderar as movimentações do menino e a nova brincadeira anunciada por ele que se configurou como a resolução do impasse.

As situações de brincadeiras colaboram para o aprendizado sobre o exercício da liderança, de formas de compartilhamento dos brinquedos, respeito às regras para a convivência, entre outros importantes conhecimentos que auxiliam na superação de conflitos e construção das identidades (ANDRADE FILHO; FIGUEIREDO; SILVA, 2008; ALVES; DUARTE; SOMMERHALDER, 2017; FINCO, 2003; RIBEIRO, 2006).

Em seguida, apresentaremos uma situação de brincadeira de papéis, quando a criança assume funções e atividades das pessoas do seu cotidiano.

Episódio 6
Duas meninas trouxeram brinquedos de casa, duas bonecas e um carrinho de bebê rosa. As bonecas tinham nomes próprios: Larissa e Júlia. Elas brincavam de divertir as bonecas, “as filhas”, que estavam no assento do balanço. Parecia que a brincadeira constava de acompanharem as “filhas”, utilizando o balanço. Uma delas estava com o carrinho de bebê ao seu lado. Depois de uns minutos balançando e conversando com as bonecas, uma das meninas tirou as duas bonecas do balanço e as colocou no carrinho, enquanto a outra apenas olhava, empurrando em direção à sua mãe. Enquanto isso, a menina que não estava segurando o carrinho falou:
– Aí, a gente vai para a minha casa, tá?
Mas não obteve resposta. Ao chegarem próximo da mãe da criança que era dona dos brinquedos, a mulher as encorajou a continuarem brincando e diz que a filha deveria dividir o papel de mãe com a amiga, deixando ela carregar os “bebês” a partir de agora.
Rapidamente, a menina que até então observava timidamente pegou o carrinho e o dirigiu novamente até o balanço. Porém, ela não balançou as bonecas. Dessa vez, posicionou o carrinho para que as bonecas ficassem “olhando” enquanto ela tentava subir no balanço para brincar.
Enquanto isso, a outra menina que era a dona dos brinquedos chorava perto da mãe que, após alguns minutos, segurou em sua mão para irem até onde estava sua amiga. Aproveitando que a menina estava no balanço, a dona dos brinquedos imediatamente pegou o carrinho com as bonecas de volta e começou a brincar sozinha.

Nesse compartilhamento de brinquedos, as crianças reconhecem na criança que tem a propriedade dos brinquedos o poder de decisão sobre a brincadeira. Não há desacordo explícito entre as crianças sobre quem deve ficar com os brinquedos, até a interferência adulta. Essa ação da adulta sobre as regras da brincadeira abre espaço para uma troca de papéis: a criança, que agora está com as bonecas, decide como brincar. No entanto, a interferência cria um conflito entre as crianças, que não havia sido explicitado ainda. Por fim, a solução encontrada não mais favorece o compartilhamento da brincadeira e o poder sobre os brinquedos e sobre a brincadeira volta para a criança que tinha a propriedade dos mesmos. Enfim, ressalta-se, mais uma vez, a capacidade de resistência das crianças em aceitar as regras construídas pelos adultos e a reafirmação das suas próprias regras.

Milene Morais Ferreira milenemorais2008@gmail.com

Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE/FUNDAJ, Recife, Brasil. Integrante do Grupo de Pesquisa Infância e Educação na Contemporaneidade (GPIEDUC) e do Grupo de Pesquisa Criança, Sociedade e Cultura (CRIAS), Brasil. Doutoranda em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Brasil.

Patrícia Maria Uchôa Simões pusimoes@gmail.com

Doutora em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Brasil. Pós-Doutoramento em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Brasil. Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), Brasil. Docente e atual coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE/FUNDAJ, Recife, Brasil.