Foto: Flickr Presidência de la Republica del Ecuador.

Jovens indígenas na Sierra Central do Equador. Elementos para pensar suas práticas comunitárias

Ser jovem no contexto da comunidade indígena andina, por enquanto, comporta uma série de complexidades e tensões, nem sempre óbvias, devido ao fato de que os jovens representam, como categoria e como constatação empírica da noção de juventude, uma ideia ambivalente no processo de transformação da comunidade indígena: sujeito que ainda não goza da confiança da estrutura de autoridade comunal (diretoria, conselho, associação), mas que, dependendo de suas ações em favor da comunidade e de seu nível de escolarização, pode ser parte da direção mesmo que em termos etários continue sendo considerado jovem.
A emergência e visibilidade da ideia de juventude indígena e dos próprios jovens indígenas, como já se analisou em trabalho precedente, é relativamente recente (Unda y Muñoz, 2011). A passagem entre a infância e a integração ao mundo adulto indígena era bastante reduzida pela necessidade de uma rápida incorporação da criança às atividades produtivas e de serviço que permitiam a subsistência familiar. É, sobretudo, com a ampliação da escola e de sua obrigatoriedade imposta pelo Estado, que as noções de infância, adolescência e juventude se consolidam e abrem um espaço de maior presença na vida comunitária.
Ao mesmo tempo, os crescentes processos de ampliação e intensificação de estratégias de produção socioeconômica urbana, expressados no campo das migrações laborais, introdução de novas práticas nas comunidades, assim como novos objetos e tecnologias, situam os jovens como atores centrais das transformações comunitárias e do que, em termos mais amplos, temos denominado dinâmicas rurbanas, para designar o conjunto heterogêneo de práticas sociais que representam misturas, hibridações e miscelâneas entre o urbano e o rural (Unda y Llanos, 2014).
No entanto, por razões que podem ser perfeitamente explicáveis, mas que excedem os limites deste trabalho, nas práticas políticas da estrutura de direção indígena, nos seus distintos níveis (associações, organizações de segundo grau, federações), não esteve presente, como em várias das estruturas políticas partidárias clássicas de tradição urbana, a ideia ou necessidade de conformar uma estrutura política de ‘juventudes indígenas’, senão de modo muito recente.
Devido a isto, em abril de 2011, a CONAIE formula o mandato para a conformação dos Conselhos da Juventude Indígena, cuja estrutura de funcionamento se dá em nível nacional e em nível local, para a execução de um plano geral de trabalho voltado à formação política de jovens indígenas e à recuperação de princípios e práticas tradicionais ancestrais como fonte primordial de sua identidade. Tudo isso no marco dos eixos e objetivos da CONAIE4.
O processo impulsionado pela estrutura central dos Conselhos da Juventude tem gerado, por um lado, dinâmicas organizativas locais cujo funcionamento se apresenta heterogêneo e, inclusive, desigual entre uma e outra província. Porém, como se tem podido constatar na pesquisa, a partir desta estrutura organizativa, os jovens indígenas encontram um espaço para reafirmar suas propostas políticas assim como questionar as diversas ideologias políticas dentro do movimento indígena.
Um dado relevante, ao final deste trabalho, é que os Conselhos das províncias da Sierra Central (Cotopaxi, Tungurahua y Chimborazo) se encontram formados e em funcionamento, ainda que não se perceba, com suficiente nitidez, se suas práticas participativas mostram resultados qualitativamente distintos das dos Conselhos que têm funcionado de maneira intermitente ou que não terminaram de se constituir ainda.
Evidentemente, estes processos referentes à organização dos Conselhos comportam consideráveis níveis de complexidade que não têm sido objeto de estudo sistemático, mas que poderiam contribuir significativamente à compreensão acerca das condições que determinam a necessidade de conformar os Conselhos de Juventude, as articulações com as distintas instâncias da estrutura de autoridade da CONAIE e do Estado, em função de produzir hipóteses e explicações que deem conta das possibilidades de reconstituição do movimento indígena, da CONAIE e de sua reinstalação como ator protagonista na vida política nacional. Acreditamos que, principalmente, nesta questão localiza-se a importância atual do estudo das práticas de jovens indígenas nas províncias da Sierra Central do Equador, sem desmerecer, entretanto, várias outras que realizam jovens de comunidades que não participam dos Conselhos ou aquelas que desenvolvem jovens indígenas na cidade, fora do espaço físico comunitário5.

4 – Entrevista com Severino Sharupi, presidente dos Conselhos da Juventude da CONAIE. Março, 2014.
5 –  Um caso que ilustra a afirmação é o da organização SumakRuray, formada por jovens indígenas procedentes da Sierra Norte e Centro, que têm como objetivo central a produção de várias formas de arte (pintura, teatro, vídeo) como estratégia para o fortalecimento da sua identidade.
René Unda Lara reneunda78@gmail.com

Sociólogo. Dr. em Ciências Sociais, Infância e Juventude. Professor pesquisador da Universidade Salesiana do Equador. Diretor do Mestrado em Política Social de Infância e Adolescência, UPS.  Diretor do Centro de Investigación sobre Niñez, Adolescencia y Juventud (Centro de Pesquisa sobre Infância, Adolescência e Juventude), CINAJ-UPS. Membro da equipe coordenadora do GT "Juventudes, Infancias: Políticas, Culturas e Instituciones Sociales" (Juventude, Infâncias; Políticas, Culturas e Instituições Sociais), CLACSO.

Maria Fernanda Solórzano Granada fersol@hotmail.com

Comunicadora Social. Mestra em Ciências Sociais com orientação em Desenvolvimento Sustentável. Profesora-Pesquisadora da Universidade Politécnica Salesiana do Equador. Pesquisadora do Centro de Investigación sobre Niñez, Adolescencia y Juventud (Centro de Pesquisa sobre Infância, Adolescência e Juventude), CINAJ-UPS.