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Mobilidade e autonomia na vivência de crianças urbanas: uma etnografia do parque público infantil

c) Dimensão criança-espaço

A terceira dimensão de análise diz respeito à relação da criança com o espaço do parque, considerando os equipamentos dispostos e a forma com que a criança se relaciona com eles, atribuindo-lhes significados. Foram identificadas três formas distintas de relacionamento entre a criança e o ambiente infantil: a primeira se refere à criança utilizar o equipamento, seguindo a proposta do brinquedo; a segunda, ao fato da criança utilizá-lo com outra proposta que não a convencional; e, finalmente, a terceira forma, que é quando a criança não utiliza ou utiliza seus próprios brinquedos.
Antes de adentrar nessas interações, é necessário discorrer um pouco sobre a estrutura e os equipamentos existentes no interior do Parque Infantil 4.

Os equipamentos não possuem uma altura elevada, considerando o público ao qual estão direcionados, mas oferecem diferentes desafios às crianças, como, por exemplo, a casinha da árvore tem três propostas: a criança pode chegar até a casa subindo pela escadinha, pela redinha, ou pelas pedras que estão dispostas para serem escaladas. Há, também, no ambiente desse parque infantil, outros equipamentos provenientes da mesma lógica de diversão: gangorras; balanços de diversos tipos e tamanhos; equipamentos de ginástica e tirolesa, obedecendo a padronização dos Parques Infantis que compõem o Parque da Jaqueira. Contudo, este último equipamento só é encontrado no Parque Infantil 4, sendo o que mais atrai as crianças.

No episódio a seguir, as crianças utilizam os equipamentos segundo a proposta do parque, ou seja, brincam conforme o esperado para a forma de utilização daquele brinquedo.

Episódio 7
Observei duas meninas de mesma estatura e que também aparentavam a mesma idade (cerca de 6 anos) no balanço. Uma se divertia empurrando a outra e elas tinham adotado os papéis de mãe e filha. Enquanto sorriam, a que estava sentada no balanço gritava:
– Mais alto, mamãe!
E então, a criança que estava em pé responde:
– Não, filha! Você pode se machucar!
A “filha” faz uma cara triste e ela continua:
– Se eu empurrar forte, você pode cair!
– Sim, mamãe! (responde de cabeça baixa)
As duas sorriem e em seguida a “filha” sugere que elas fossem em outro brinquedo.

A brincadeira de mãe e filha desse episódio segue a orientação do parque de que “todas as crianças devem estar acompanhadas por um adulto”. Assumindo a função de proteger, a criança que assume o papel da mãe determina a intensidade da brincadeira e a altura com que o balanço pode ser utilizado. Por sua vez, a “filha” aceita o limite imposto pela “mãe”, concordando com ele ou aceitando que, no papel de “filha”, é o que deve fazer.

Para Borba (2009), a brincadeira é um fenômeno da cultura, ou seja, constitui-se como um conjunto de práticas, conhecimentos e artefatos construídos histórico e socialmente pelos sujeitos. A brincadeira permite à criança reconhecer-se como sujeito pertencente a um grupo social e a um contexto cultural, favorecendo o conhecimento sobre si mesmo e suas relações no mundo. Sendo uma atividade que é desenvolvida em conjunto, a brincadeira constitui-se como uma forma de manifestação das culturas da infância.

Já o episódio 8 diz respeito ao fato de a criança utilizar o equipamento do parque com outra proposta que não a convencional.

Episódio 81
Algumas crianças chegaram correndo e com fardamento de uma escola, seguidas por seus responsáveis. Então, surgiram algumas situações.
Inicialmente, observei uma mulher advertindo um menino que brincava de correr com uns amigos:
– Davi, tu tem que brincar. Né correr, não!
Logo após essa advertência, se formou uma fila enorme para brincar na tirolesa. Outra mãe advertiu uma criança que não tive tempo de observar se era um menino ou uma menina:
– Vai em outro (brinquedo)! Daqui a pouco chega a hora de voltar e tu não brincou.
Enquanto ela concluía sua fala, verifiquei um grupo de quatro meninos que aparentavam ter entre 4 e 6 anos de idade e tinham acabado de descer do escorregador da casa da árvore. Ao mesmo tempo em que um deles propunha um desafio:
– Eu duvido que vocês sobem por aqui! (gritou eufórico, apontando para o escorregador da casa da árvore).
E então um deles responde:
– Mas sobe por ali! (apontando para a escadinha da casa da árvore).
– Tu é muito fraco! (respondeu, enquanto tentava subir).
O menino consegue e fica em cima do escorregador esperando pelos amigos, enquanto grita:
– Vem, Miguel!!!! (fazendo sinal com a mão para o menino que acabou de indagá-lo).
Miguel também consegue subir, mas demonstra cansaço e respiração ofegante. Enquanto isso, o menino continua:
– Vai, João Victor!!!!
Novamente, o amigo consegue, e então ele grita:
– Tua vez, Pedro!!!
Pedro apresenta dificuldade e as três crianças que já estavam em cima do escorregador estendem a mão e tentam puxá-lo, apoiando-se na proteção do equipamento. Dessa forma, Pedro chega ao topo e os quatro comemoram.

Observam-se diferenças nos significados atribuídos por adultos e crianças aos espaços e tempos do brincar no parque infantil. Para os adultos, as crianças brincam no espaço do parque quando utilizam os equipamentos dispostos para esse fim: “Davi, tu tem que brincar. Né correr, não!” O mesmo ocorre com a concepção de tempo da outra mãe, quando diz: “Vai em outro (brinquedo)! Daqui a pouco chega a hora de voltar e tu não brincou”, como se o tempo no parque fosse o tempo de utilização dos equipamentos do parque. Como já refletimos, os espaços e tempos das crianças são ressignificações que não coincidem com os espaços e tempos dos adultos. Brincar para as crianças parece significar estar no parque, deslocar-se, interagir com outras crianças.

Esse episódio revela também a proposta da transgressão no uso dos brinquedos e, diante da dificuldade de uma das crianças na realização da atividade, observa-se a solidariedade para o cumprimento da tarefa. São novas formas de utilização dos equipamentos do parque que têm uma nova ordem construída coletivamente, diferente da lógica adulta.

E, finalmente, respectivamente nos episódios 9 e 10, apresentaremos situações em que as crianças não utilizam os equipamentos do parque ou utilizam seus próprios brinquedos.

Episódio 9
No balanço, próximo à placa de indicação do parque, havia uma menina (que aparentava ter entre 5 e 6 anos de idade) com uma pedra na mão, desenhando na areia. Ao me aproximar, vi que ela estava montando uma amarelinha, enquanto outra menina (que aparentava ser um pouco mais nova e ter entre 3 e 4 anos de idade) esperava, pulando incessantemente sem sair do lugar.

Episódio 10
Um senhor com duas crianças, um menino e uma menina (que aparentavam ter a mesma idade, entre 6 e 8 anos), estava com um brinquedo de bolha de sabão ensinando as crianças a fazerem suas próprias bolhas. Até que, em determinado momento, a menina olha para o menino e diz:
– É dos dois!
O menino se recusa a dividir o uso, então o senhor que os acompanhava fala:
– É dos dois, sim!
Logo em seguida, o menino volta a dizer:
– Não (enquanto pega o copo da mão do senhor que estava com eles).

Os dois episódios foram trazidos para essa análise, unicamente, por envolverem situações em que as crianças não utilizam os equipamentos do parque. Sendo assim, no episódio 9, as crianças não utilizam os equipamentos, mas fazem uso de uma pedra encontrada no parque e do espaço livre que há nele para construir uma relação de compartilhamento da brincadeira e, no episódio 10, as crianças também não utilizam os equipamentos do parque por estarem utilizando seu próprio brinquedo. Enquanto no primeiro episódio há uma proposta de compartilhamento da brincadeira, jogar amarelinha, no segundo, não há acordo sobre isso e, mesmo com a intermediação do adulto, com a proposição do compartilhamento do brinquedo, as crianças resolvem manterem-se isoladas na brincadeira.

Conclusão

A análise dos registros realizada aponta a capacidade de agência da criança no desenvolvimento de suas brincadeiras no parque, com a possibilidade de exercer autonomia ao escolher parceiros, brinquedos e brincadeiras e de deslocar-se com relativa autonomia pelos espaços e equipamentos disponíveis. Esses achados vão na direção dos estudos das infâncias que afirmam a agência da criança, enquanto produtora de cultura e ser relacional e de direitos.

Também se evidenciam as intervenções dos adultos quanto às formas de organização dos tempos e espaços das crianças no parque, tentativas de definição sobre o deslocamento das crianças, as formas de brincar e de se relacionar com as outras crianças. Ressalta-se a dificuldade por vezes observada na escuta da criança pelo adulto e na ausência de significados atribuídos aos seus gestos e movimentos, parecendo haver grandes distanciamentos entre eles. A normatividade e as visões adultocêntricas também são evidenciadas em estudos das infâncias, no entanto, o presente estudo ressalta a capacidade de resistência e de transgressão das crianças, ao construir suas próprias regras sobre como e com quem brincar, reafirmar suas escolhas e criar funções e objetivos novos para os espaços e os equipamentos que o parque oferece.

Como conclusão, o presente estudo pretendeu lançar luzes sobre as formas de apropriação que as crianças fazem dos parques e de suas relações com outras crianças e com os adultos. A pretensão foi contribuir com o debate sobre criança e cidade, com foco no parque enquanto espaço público, trazendo uma reflexão sobre as possibilidades de as crianças exercerem sua autonomia e capacidade de mobilidade e construírem culturas, em função da sua condição de cidadania e do seu direito à cidade.

As evidências quanto à capacidade das crianças de reinterpretarem espaços e equipamentos no parque nos apontam a necessidade de favorecer o desenvolvimento da criatividade e da autonomia nos usos desses espaços, com a oferta de possibilidades mais livres e menos dirigidas do que as atividades propostas pelos adultos para as crianças. O presente estudo questiona a postura adulta de controle e monitoramento da brincadeira das crianças e ressalta suas possibilidades de resistência e solução de conflitos, sem a interferência adulta. O reconhecimento dessas capacidades das crianças pelos adultos é importante no sentido de que a sociedade precisa compreender a cidadania das crianças e, assim, respeitá-las no seu direito à cidade. A pesquisa sobre as infâncias nas cidades tem um papel importante na garantia desse direito e na proposição de transformação social, subsidiando as políticas públicas, a gestão do espaço público e o planejamento urbano.

1 – Os nomes das crianças são fictícios para preservar suas identidades.

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Resumo

O estudo teve como foco as crianças em um parque público e fundamenta-se na perspectiva dos estudos sociais das infâncias, para pensar a criança como construtora de possibilidades de ver e viver na cidade e produzir sentidos para aquilo que foi instituído a partir de suas percepções e vivências. Foram realizadas sessões de observação não participante em um parque público da cidade de Recife, tendo como foco as formas de apropriação das crianças, considerando o uso dos equipamentos disponibilizados e as interações com seus pares e seus acompanhantes adultos. A análise aponta o exercício da autonomia da criança, ao escolher parceiros, brinquedos e brincadeiras, e a mobilidade pelos espaços e equipamentos disponíveis. Também se evidenciam as intervenções dos adultos nas formas de organização dos tempos e espaços das crianças. Como conclusão, o estudo reflete a condição de cidadania da criança e o seu direito à cidade.

Palavras-chave: criança, cidade, autonomia, mobilidade.

Movilidad y autonomía en la experiencia de los niños urbanos: una etnografía del patio público

Resumen

El estudio se centró en los niños en un parque público y se basa en la perspectiva de los estudios sociales de la infancia, para pensar en el niño como un constructor de posibilidades de ver y vivir en la ciudad y producir significados a lo instituido, a partir de sus experiencias, percepciones y experiencias. Se realizaron sesiones de observación no participante en un parque público de la ciudad de Recife, enfocándose en las formas de apropiación de los niños, considerando el uso de los equipos provistos y las interacciones con sus pares y sus acompañantes adultos. El análisis apunta al ejercicio de la autonomía del niño, a la hora de elegir parejas, juguetes y juegos, y la movilidad a través de los espacios y equipamientos disponibles. También destaca las intervenciones de los adultos en las formas de organizar los tiempos y espacios de los niños. Como conclusión, el estudio refleja la ciudadanía del niño y su derecho a la ciudad.

Palabras clave: niño, ciudad, autonomía, movilidad.

Mobility and autonomy in the experience of urban children: an ethnography of the public playground

Abstract

The present study proposed to analyze the forms of appropriation of spaces in a public playground for children, considering the use of the equipment available in this space and the interactions with their peers and their adult companions. For that, we used the ethnographic method. To support this study, we used contributions from the new social studies of childhood. The results show that children perform actions of resistance to the rules of adults regarding the use of spaces and the interactions established; conflict situations between peers are a way to keep playing; in interactions, they give new meaning to the park’s spaces, times and equipment. Therefore, this work can contribute to confer more discussions on the urban experiences of children in contemporary cities, pointing out the importance of children’s performance and participation in public spaces in the city in a relationship of exchange of experiences between the different generational groups that attend it.

Keywords: children, city, autonomy, mobility.

Data de recebimento: 31/01/2021
Data de aprovação: 01/07/2021

Milene Morais Ferreira milenemorais2008@gmail.com

Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE/FUNDAJ, Recife, Brasil. Integrante do Grupo de Pesquisa Infância e Educação na Contemporaneidade (GPIEDUC) e do Grupo de Pesquisa Criança, Sociedade e Cultura (CRIAS), Brasil. Doutoranda em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Brasil.

Patrícia Maria Uchôa Simões pusimoes@gmail.com

Doutora em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Brasil. Pós-Doutoramento em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Brasil. Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), Brasil. Docente e atual coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE/FUNDAJ, Recife, Brasil.