Apresentamos esta primeira edição da DESIDADES de 2023 com o alento que significou a eleição presidencial ao trazer esperanças de uma reconstrução do Brasil. No entanto, todos sabemos que (re)construir é um processo longo e difícil, enquanto que a devastação e o desmonte são, em geral, impiedosamente sumários na sua celeridade e dimensão. Para as infâncias, adolescências e juventudes houve um sem número de medidas urgentes que se iniciaram no resgate das vidas de indígenas, crianças e adultos, à beira da morte por fome, contaminação e enfermidades, resultado da política genocida do governo federal anterior. Mas, não apenas. Restabeleceram-se políticas outras, como o reajuste do repasse de recursos da União, à merenda escolar de milhões de crianças nas escolas públicas do país. O restabelecimento institucional e financeiro dos Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia é alvissareiro de novas perspectivas para a produção e divulgação do conhecimento científico no campo da infância, adolescência e juventude. Oxalá!
Esta edição conta com a Seção Temática “Infâncias Cuidadoras em Contextos Latinoamericanos”, editada pelas professoras Juliana Siqueira de Lara e Pia Leavy, que visa colocar em discussão este aspecto singular que caracteriza, principalmente, as infâncias do Sul Global. O debate científico sobre essa temática tão importante – até porque tão presente no cotidiano das crianças latino-americanas – abre novas chaves de leitura e compreensão do cuidar e ser cuidado, pelas e das crianças, para além do enquadre de supostos desvios de uma infância normalizada pelos padrões e valores do Norte Global. Como área de estudos investigada em campos disciplinares diversos, cuidar e ser cuidado é temática que está articulada a questões econômicas, políticas, de saúde, e relativa a direitos de crianças e de suas famílias. Sobretudo, como colocam Leavy e de Lara a partir do leque de artigos que compõe esta Seção, a temática do cuidado por crianças demanda colocar em questão as particularidades de cada cultura e história onde as crianças desempenham tais práticas, suas relações familiares, as diferenças de gênero, etnia e classe social, assim como a estrutura de desigualdades sociais que caracteriza tais sociedades.
Na Seção Livre trazemos dois artigos, “Embarazo en la adolescencia y políticas de salud en Bahía Blanca, Argentina. Aportes a la discusión desde un enfoque etnográfico”, de Ana Florencia Quiroga e “Relações de cuidado em situação de vulnerabilidade social: uma experiência clínico-institucional na primeira infância”, de Beatriz de Castro Neves, Erika Dauer e Karla Holanda Martins. Ambos os artigos tratam de aprofundar temáticas, seja a da gravidez na adolescência, seja a da pobreza que atinge as crianças e suas mães, na direção do como tais situações são definidas e compreendidas por gestores públicos e/ou profissionais de saúde, e que políticas públicas são demandadas nessas situações de vulnerabilização.
Finalmente, trazemos duas resenhas que compõem a Seção Informações Bibliográficas sobre publicações muito interessantes. Débora Ferreira Bossa apresenta a resenha “Adolescências plurais: juventudes, trauma e segregação” sobre o livro “Juventudes, trauma e segregação”, organizado por Andréa Máris Campos Guerra, Ana Carolina Dias Silva, Rodrigo Goes e Lima. A obra “A relevância dos Institutos Federais na voz de seus estudantes” é o título da resenha de Aline Paes Araujo e Maria Conceição Borges Dantas, sobre o livro “#falaestudante! Um estudo sobre o legado da expansão dos Institutos Federais aos seus estudantes”, de Michelli Daros.
Nesta edição, faltamos aos nossos leitores com o nosso Levantamento Bibliográfico e a nossa Entrevista. Voltaremos com eles, esperançosamente, na próxima edição.
Boa leitura!
Lucia Rabello de Castro
Editora Chefe