A sociedade brasileira encontra-se em um momento de estupefação diante da conjuntura social, política e econômica, vivenciando fatos tão inusitados quanto alarmantes. Em um mesmo ano o país viveu múltiplas crises intra e interinstitucionais, com a deposição, pelo Congresso Nacional, de uma presidenta eleita pelo voto popular e a concomitante ascensão do seu vice, que também foi o principal articulador do processo de deposição. Os direitos e conquistas sociais frutos de anos de luta tem sido colocados sob constante ameaça, seja pela própria classe política que se aproveita de um momento de desarticulação das forças progressistas, seja por setores conservadores da sociedade civil que vislumbram a possibilidade de jogar por terra conquistas importantes.
O setor educacional tem sido um dos mais fragilizados, com projetos e medidas que se avizinham como elementos de retrocesso, particularmente uma proposta de reforma do ensino que pretende retirar do currículo disciplinas que supostamente podem conduzir os estudantes à reflexão e maior autonomia, como Sociologia e Filosofia. Outro projeto que tensiona fortemente o setor educacional é o projeto que pretende “despartidarizar” ou “despolitizar” a sala de aula, o qual supõe que professores e estudantes não podem discutir assuntos relacionados a certos aspectos históricos, sociais, políticos, psicológicos, pois tais discussões funcionariam como ferramentas de doutrinação ideológica e até mesmo como processos de reorientação sexual de crianças e jovens.
Parte da sociedade tem reagido vigorosamente contra esse estado de coisas, manifestando um grande descontentamento e disposição para impedir alguns desses projetos. Um dos movimentos mais marcantes tem sido o de jovens estudantes secundaristas e universitários que, desde 2015, vêm ocupando escolas e universidades como forma de mobilizar e demonstrar a sua insatisfação perante os rumos da política. O movimento de ocupação tem mostrado que os jovens podem ocupar um lugar de destaque no processo de autorreflexão da sociedade, e também que, a seu modo, fazem escolhas que dizem respeito a um modo de compreender e agir no presente e assim projetar o futuro.
Nesta 13a edição, DESIDADES traz na seção Espaço Aberto uma entrevista com o pesquisador e Doutor em Educação, Luiz Carlos de Freitas, que aborda diferentes aspectos do atual contexto da educação brasileira, em especial os problemas da privatização do ensino, a reforma educacional e os movimentos de resistência protagonizados pelos estudantes brasileiros.
Na seção Temas em Destaque, Fernando Rey Arévalo Zavaleta, Gloria Patricia Ledesma Ríos, María Esther Pérez Pechá e Saraín José García discutem os resultados de uma pesquisa sobre o sistema de educação autônoma zapatista que opera nas regiões autônomas dos Altos e na Selva Lacandona, em Chiapas, México. No artigo “A proposta educativa nas comunidades zapatistas: autonomia e rebeldia”, os autores mostram que, neste sistema, a escola é organizada para ser um espaço de formação de jovens e crianças tendo em vista o “olhar do mundo próprio dos zapatistas”, ou seja, um projeto educacional que reforça a necessidade de relação harmoniosa com a comunidade e a natureza e ideais amplos sobre autonomia e liberdade.
Já de há muito se discute que não se pode falar de uma juventude, mas de juventudes, ou melhor, de um fenômeno que revela condições diversas de sujeitos, com múltiplas pertenças e gostos, desejos e referências. Essa heterogeneidade marca os diversos lugares de vida dos sujeitos jovens, como discute a pesquisadora Rosana da Câmara Teixeira, que abordou a experiência de participação dos jovens nas torcidas organizadas, no artigo “Aprendizagens e sociabilidades juvenis: a experiência das Torcidas Jovens cariocas”.
Três resenhas compõem a seção de Informações Bibliográficas, a de José Weinstein sobre o livro “Nadie dijo que era fácil. Escuelas efectivas en sectores de pobreza, 10 años después”, obra coletiva escrita por Cristián Bellei, Liliana Morawietz, Juan Pablo Valenzuela e Xavier Vanni; a resenha feita por Verónica Millenaar sobre o livro organizado por Mariana Busso y Pablo Pérez, “Caminos al trabajo: el mundo laboral de los jóvenes durante la última etapa del gobierno kirchnerista”; e, finalmente, a de Victor Alexander Huerta-Mercado Tenorio, sobre o livro “Solo zapatillas de marca. Jóvenes limeños y los límites de la inclusión desde el mercado”, escrito por Francesca Uccelli e Mariel Garcia LLorens. Ainda nesta seção, divulgamos a lista de publicações do terceiro trimestre de 2016, na área de ciências humanas e sociais sobre infância e juventude, levantadas a partir dos sites de editoras nos países da América Latina.
Heloisa Dias Bezerra
Editora Associada
Nominata de Consultoras e Consultores Ad hoc 2016
Alexandre Simão de Freitas – Brasil, Universidade Federal de Pernambuco
Alfredo Nateras Domínguez – México, Universidad Autónoma Metropolitana Iztapalapa
Ana Cecilia Vergara Del Solar – Chile, Universidad Diego Portales
Ana Lila Leijárraga – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Ângela de Alencar Araripe Pinheiro – Brasil, Universidade Federal do Ceará
Claudia Andréa Mayorga Borges – Brasil, Universidade Federal de Minas Gerais
Fernanda Canavêz de Magalhães – Brasil, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Gabriela Paula Magistris – Argentina, Universidad de Buenos Aires
Jacqueline Cavalcanti Chaves – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Leila Maria Amaral Ribeiro – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Lila Cristina Xavier Luz – Brasil, Universidade Federal do Piauí
Lucia de Mello e Souza Lehmann – Brasil, Universidade Federal Fluminense
Marcelo Tadeu Baumann Burgos – Brasil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Marcos Cezar Freitas – Brasil, Universidade Federal de São Paulo
Maria Cristina Gonçalves Vincetin – Brasil, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
María Florencia Gentille – Argentina, Universidad Nacional de General Sarmiento
Maria Helena Oliva Augusto – Brasil, Universidade de São Paulo
Maria Regina Maciel – Brasil, Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Myriam Moraes Lins de Barros – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Patrícia Pereira Cava – Brasil, Universidade Federal de Pelotas
Raquel Corrêa de Oliveira – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rita de Cássia Fazzi – Brasil, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Rosangela Francischini – Brasil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Simone Ouvinha Peres – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Solange Jobim e Souza – Brasil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Vera Maria Ramos de Vasconcellos – Brasil, Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Verônica Salgueiro do Nascimento – Brasil, Universidade Federal do Cariri