Editorial – Ed. 17

2017 não pode ser celebrado como um ano favorável para a vida das crianças e jovens latino-americanos. Em muitos destes países o avanço de políticas neoliberais já trouxe, e aprofundará mais ainda, efeitos nefastos sobre a população infanto-juvenil. Essa, conforme estudos que demonstram amplamente o impacto das desigualdades sociais, é a que mais sofre quando a comida é escassa, não existem serviços de saúde, a oferta de educação é de má qualidade e a existência humana dos mais pobres, ao deus-dará, não está amparada por qualquer rede de proteção social.

Alguns poucos exemplos: no Brasil, a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional 55, que congela os gastos da educação e saúde, trará efetivamente uma redução do investimento nestes dois setores. Como afirmam pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA,

“Na prática, os benefícios que tais medidas podem trazer ao reduzir a dívida pública, aumentar a confiança e o investimento privado parecem ter sido exagerados, havendo forte evidência de que a iniquidade pode baixar significativamente o nível e a durabilidade do crescimento econômico.” (Vieira e Benevides, 2016:21, nossos grifos)

Na Argentina, há pouco foi aprovada na Câmara dos Deputados a lei de reforma previdenciária, cujo objetivo é poupar algumas dezenas de bilhões de pesos anuais à custa da diminuição dos reajustes de pensões, aposentadorias e da Quota Universal por Filho – programa de assistência social para quem tem filhos/as. O recém eleito presidente Sebastian Piñera no Chile, empresário bilionário dono de uma das maiores fortunas do país, pretende levar o Chile ao clube dos países “desenvolvidos”, estabilizar a dívida pública, reduzir a tributação para as empresas e aprovar a reforma da Previdência. Enfim, os governos golpista de Temer, de Macri e do futuro presidente do Chile, para mencionarmos apenas alguns exemplos, não tem sido, ou serão, auspiciosos para mudar a situação de enormes injustiças que minam e destroem as expectativas de vida melhor para milhões de crianças e jovens destes países.

E aqui, por meio do periódico DESIDADES, continuamos a apostar na construção de uma plataforma de diálogo e interlocução pública sobre a infância e a juventude latino-americana, a despeito do desmonte que se tem produzido no país em relação ao patrimônio público. E seguimos apostando que a construção desta interlocução entre pesquisadores, docentes, estudantes, profissionais, gestores públicos e público, em geral, pode contribuir na sensibilização das questões da infância e juventude. Afinal, a se perguntar que tipo de sociedade queremos construir, temos que incluir as demandas deste segmento que, certamente, priorizarão o “bem viver” mais do que o desenvolvimento (de la Cuadra, 2015), a comida na mesa todos os dias mais do que a meta sanguessuga da “estabilização da dívida pública” em que a renda bilionária de alguns cresce em detrimento de se assegurar direitos básicos para muitos.

Nesta edição, apresentamos dois artigos na seção Temas em Destaque, um sobre jovens cubanos e suas trajetórias laborais, da pesquisadora Karima Bello Oliva e outro sobre a produção de sexualidades heteronormativas de jovens brasileiros inseridos em grupos religiosos neopentecostais, dos pesquisadores Rodrigo Kreher e Neuza Guareschi. A entrevista, com a pesquisadora Renata Tomaz, versa sobre os novos modos de ser e relacionar-se na infância a partir das redes sociais, YouTube e internet. A presentamos também as resenhas dos livros Jovens, câmera, ação: reflexões sobre os usos dos dispositivos móveis de mídia em um projeto de mobilização social, de Jaileila Menezes, Karla Galvão Adrião e Luis Felipe Rios, feita por Paloma Silveira; e Estamos alunos: um estudo sobre a identidade contemporânea dos alunos do Colégio Militar do Rio de Janeiro, de Fábio Facchinetti Freire, feita por Teresa Cristina de Carvalho Piva. Temos também o prazer de apresentar aos leitores o levantamento de 18 obras sobre infância e/ ou juventude, no âmbito das ciências sociais e humanas, publicadas ao longo do último trimestre.

Boa Leitura!

Lucia Rabello de Castro
Editora Chefe

Referências Bibliográficas

DE LA CUADRA, F. Buen vivir: una auténtica alternativa post-capitalista? Polis, n. 40, p. 1-10, 2015.

VIEIRA, F.; BENEVIDES, R. Os impactos do novo regime fiscal para o financiamento do Sistema Único de Saúde e para a efetivação do direito à saúde no Brasil. Nota Técnica, IPEA, Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Brasil, 2016.

Nominata de Consultoras e Consultores Ad hoc 2017

Alexandre Bárbara Soares – Brasil, Universidade Federal Fluminense
Ana Cristina Delgado – Brasil, Universidade Federal de Pelotas
Ana Cristina Serafim da Silva – Brasil, Universidade Federal do Tocantins
Ana Lila Lejarraga – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
André Luiz Strappazzon – Brasil, Faculdade Cesusc
Conceição Firmina Seixas – Brasil, Universidade Estadual do Rio de Janeiro
Cristiana Carneiro – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Dalva Borges de Lima – Brasil, Universidade Federal de Goiás
Edson Guimarães Saggese – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Elias Evangelista Gomes – Brasil, Universidade Federal de Alfenas
Fernanda Muller – Brasil, Universidade de Brasília
Gleice Virginia Medeiros de Azambuja Elali – Brasil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Janaína Sampaio Zaranza – Brasil, Universidade Federal do Ceará
Janine Helfst Leicht Collaço – Brasil, Universidade Federal de Goiás
Leila Maria Amaral Ribeiro – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Leny Cristina Soares Souza Azevedo – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Lucélia de Moraes Braga Bassalo – Brasil, Universidade do Estado do Pará
Lúcia Helena Vitalli Rangel – Brasil, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Luciana Lobo Miranda – Brasil, Universidade Federal do Ceará
Luis Antonio Groppo – Brasil, Universidade Federal de Alfenas
Marcelo Moreira Neumann – Brasil, Universidade Presbiteriana Mackenzie
Márcia Stengel – Brasil, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Marcos Cezar de Freitas – Brasil, Universidade Federal de São Paulo
Maria Alice de Lima Gomes Nogueira – Brasil, Universidade Federal de Minas Gerais
Maria Angela D’Incao – Brasil, Universidade Estadual Paulista
María Celeste Hernández – Argentina, Universidad Nacional de La Plata
Maria Guadalupe Lopez – México, Universidad de Guadalajara
Maria Helena Augusto – Brasil, Universidade de São Paulo
Maria Regina Maciel – Brasil, Universidade Estadual do Rio de Janeiro
Mariana Palacios – Argentina, Universidad de Buenos Aires
Mariana Paladino – Brasil, Universidade Federal Fluminense
Mirela Figueiredo Santos Iriart – Brasil, Universidade Estadual de Feira de Santana
Nair Monteiro Teles – Brasil, Fundação Oswaldo Cruz
Patrícia Pereira Cava – Brasil, Universidade Federal de Pelotas
Raquel Corrêa de Oliveira – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rita de Cássia Alves Oliveira – Brasil, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Rogelio Vazquez – México, Universidad de Guadalajara
Rosana Katia Nazzari – Brasil, Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Rosângela Francischini – Brasil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Saraí Schmidt – Brasil, Universidade Feevale
Silvia Pereira Benetti – Brasil, Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Sônia Margarida Gomes Sousa – Brasil, Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Zanei Ramos Barcellos – Brasil, Universidade de Brasília