Editorial – Ed. 25

Fechar um ano responde ambivalentemente pelas realizações e conquistas e, ao mesmo tempo, pela despedida das dificuldades e agruras vivenciadas. 2019 foi um ano especialmente difícil cuja alegria, ante seu término, pende mais para o fato de se ter sobrevivido ao desmonte impetrado como política de governo à área da ciência, educação pública e cultura no Brasil. A Revista DESidades completou em 2019 seis anos de publicação ininterrupta de edições trimestrais no campo da infância, adolescência e juventude. Como acontece com frequência no país, e em outros da América Latina, as revistas científicas contam com a colaboração voluntária de docentes e estudantes que se dedicam à causa e ao trabalho de editoração científica. No entanto, as condições deste trabalho voluntário tem piorado drasticamente com a produção da escassez de recursos que podem dar suporte à publicação das pesquisas científicas. Visibilizar cientificamente – através da divulgação do conhecimento científico – a infância e a juventude latino-americanas permanece nossa política editorial inconteste, o que nos motiva a iniciar este Editorial da última edição de 2019 assumindo publicamente a indignação frente às políticas obscurantistas para a ciência, cultura e educação no último ano no Brasil.

No entanto, a Equipe Editorial da DESidades considera que, apesar das dificuldades, não podemos abrir mão desta tarefa cujo ideal desponta para a criação e consolidação de um veículo de discussão científica sobre a infância, a adolescência e a juventude latino-americanas a partir de uma visão crítica e libertadora. Essa visão incide tanto sobre a forma de compreender o papel decisivo de crianças e jovens na construção e no cuidado com o mundo em que todos vivemos, como também sobre a forma de conceber o papel dos pesquisadores na construção de teorias científicas que sejam interpeladas pelas questões sociais da nossa história e dos nossos territórios. Deste modo, veicular a pesquisa científica sobre a infância e a juventude latino-americanas abraça, convictamente, o compromisso com o avanço do conhecimento científico que possa servir às lutas para maior justiça e igualdade nos países latino-americanos. Até mesmo porque, para aqueles que pesquisam e estudam as questões da infância e juventude, sabemos como a visão estereotipada, preconceituosa e equivocada tem pautado as políticas públicas para estas categorias sociais e etárias.

Mas a cada lançamento de mais uma edição da revista DESidades renovam-se as alegrias de podermos trazer ao público mais discussões e pesquisas de qualidade que adensam a compreensão sobre ser jovem ou criança na América Latina. Nesta edição, a seção Temas em Destaque contempla cinco artigos com assuntos bem diversos. O artigo inicial traz o estado da arte da pesquisa com bebês e discute como este campo de pesquisa – ainda marginal nas Ciências Humanas e Sociais – põe em cheque visões societárias de tempo presente e futuro, dos ideais coletivos e das possibilidades particulares – o quê se é e o quê se quer que sejamos, autorado pelos pesquisadores argentinos Pablo De Grande e Carolina Remorini. Em seguida, Lucia Rangel, antropóloga, pesquisadora dos povos indígenas, problematiza a violência e exploração infligida a estes povos, tematizando o suicídio de jovens indígenas em suas múltiplas modalidades e modos de articular campos semânticos diversos. Karina Benavides e Daniel Erazo, pesquisadores do Equador, apresentam uma discussão sobre o quê acontece com as crianças cujos pais migram do Equador com o intuito de lhes dar uma vida materialmente melhor – quais são as marcas e as feridas deste processo migratório sobre as crianças. A Equipe Infância Plural – coletivo de pesquisadores argentinos que trabalha sobre temas da infância – assina o artigo que expõe como as noções de infância, alteridade e cuidado se articulam determinando modos e práticas de os adultos se relacionarem com as crianças. Finalmente, os pesquisadores brasileiros Isabel Cristina da Silva e Ana Maria Freitas Teixeira discutem os projetos de vida de jovens que vivem na zona rural do Estado de Alagoas, Brasil, expondo as imensas dificuldades que enfrentam para concretizar seus planos de futuro no que tange a estudos e trabalho.

Na seção Espaço Aberto, a pesquisadora brasileira Fabiana de Amorim Marcello entrevista o professor Camilo Jaras sobre a presença da infância no cinema colombiano. Enfim, na seção de Informações Bibliográficas apresentamos resenhas de publicações recentes e o levantamento de 28 livros publicados no último trimestre nas áreas das Ciências Humanas e Sociais cuja informação pôde ser rastreada nos sites de editoras de todos os países latino-americanos.

Ainda, em nome da Equipe Editorial, gostaríamos de agradecer aos pesquisadores e docentes cuja nominata se encontra abaixo por haverem atuado como consultores e avaliadores ad-hoc da Revista DESidades ao longo de 2019. O nosso muito obrigada!
Boa Leitura a todos e todas!

Lucia Rabello de Castro
Editora Chefe

NOMINATA DE CONSULTORES E AVALIADORES AD- HOC – 2019

Ana Lila Lejarraga – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Ana Cecilia Vergara Del Solar – Chile, Universidad Diego Portales
Angela de Alencar Araripe Pinheiro – Brasil, Universidade Federal do Ceará
Circe Mara Marques – Brasil, Universidade Alto Vale do Rio do Peixe
Chris Giselle Pegas Pereira da Silva- Brasil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Edson Guimarães Sagesse – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
José Elias Domingos Costa Marques – Brasil, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás
Marcos Cezar de Freitas – Brasil, Universidade Federal de São Paulo
Maria Malena Lena – Argentina, Universidade de Buenos Aires
Maria Luiza Campos da Silva Valente – Brasil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Marta Xavier Fadrique – Brasil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Myriam Moraes Lins de Barros – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Otávio Luiz Machado – Brasil, Universidade Federal de Pernambuco
Rachel Shimba Carneiro – Brasil, Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Raquel Corrêa de Oliveira – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rita de Cássia Fazzi – Brasil, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Roselene Gurski – Brasil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Simone Ouvinha Peres – Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Sônia Regina dos Santos Teixeira – Brasil, Universidade Federal do Pará
Talita Pereira Dias – Brasil, Universidade Federal de São Carlos
Telma Regina de Paula Souza – Brasil, Universidade Metodista de Piracicaba