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Análise da produção bibliográfica em livros sobre a infância e a juventude na América Latina

3. Análise e discussão

Para fins da presente análise, tomamos os resultados obtidos a partir dos Levantamentos Bibliográficos publicados pelo Periódico a partir da segunda edição da revista, lançada em março de 2014, quando as editoras latino-americanas de língua espanhola foram incluídas. A partir desta edição do Periódico, o número de editoras da lista incluiu os países da Argentina, Chile, Colômbia, México, Venezuela. A partir da sétima edição do Periódico, em março de 2015, editoras dos países Cuba, Bolívia, Costa Rica, Nicarágua, Guatemala, Peru, Paraguai e Uruguai também foram agregadas à lista para a realização das buscas das obras.

3.1 Os campos da infância e juventude interessam às editoras?

As editoras incluídas na listagem do Periódico constituem uma amostragem de cada país, ainda que não representativa, tendo em vista que a metodologia de inclusão pressupôs a possibilidade de acesso a elas por meio de seus sites. Muitas foram as editoras excluídas cujos sites estavam sistematicamente fora do ar e desatualizados. Mesmo assim, pudemos traçar um panorama de como, em cada país, se comporta o mercado editorial em relação à divulgação de trabalhos científicos sobre a infância e a juventude.

A Figura 1 apresenta o número de editoras incluídas na lista de busca por país latino-americano, e o número de editoras que tiveram efetivamente obras incluídas no levantamento em alguma das seis edições.

Figura 1: Número de editoras incluídas na lista de busca, por país / Número de editoras que tiveram obras incluídas no levantamento bibliográfico, por país

grafico 1
(*) países cujas editoras foram incluídas a partir da 7a edição do Periódico

O que ressalta na figura 1 é a defasagem entre o número de editoras incluídas na lista (n=449), e o número de editoras que efetivamente publicaram sobre infância e/ou juventude no período (n=88). O exame sistemático, ao longo de mais de um ano, das informações sobre as publicações das 449 editoras selecionadas da nossa lista, mostrou que apenas 20% delas aparecem como tendo publicado nestes campos. Três países aparecem no topo da lista com quase 80% do total de editoras incluídas na lista – Brasil, Argentina e México. O resultado obtido para o Brasil, com 43% do total das editoras da lista, tem a ver com o fato de a lista incluir 195 editoras brasileiras, ao passo que tão somente 254 editoras de todos os outros países latino-americanos. É forçoso dizer que, para a equipe, o fato de se navegar em sites brasileiros, “nacionais”, pode ajudar a tarefa de busca de editoras. Cabe ressaltar que a inclusão de outras editoras na lista tem sido um objetivo permanente de modo a abarcar um número próximo deste universo.

Nem sempre o número de editoras de algum país resulta em uma maior contribuição na divulgação de títulos sobre infância e/ou juventude. É o caso do Chile, se comparado ao México, por exemplo: no primeiro, embora mostre um menor número de editoras incluídas na lista em relação ao segundo, esse apresenta uma proporção superior de editoras que publicam nestes campos. Embora a ordenação obtida tenha que levar em conta que as editoras de alguns países entraram tardiamente na lista e, portanto, são os que arcam em geral com um percentual pequeno de editoras na mesma, há exceções dignas de nota. Por exemplo, o Peru, incluído tardiamente, encontra-se em quarto lugar com 6,9% de editoras na lista, logo depois do México, que arca com 10%. Colômbia e Venezuela, ambos os países incluídos desde o início, em conjunto, somam menos que 3% das editoras incluídas na lista.

Do total de editoras que publicaram obras sobre infância e juventude no período, foram as editoras brasileiras, 61,36%, que se destacaram quanto ao maior volume de publicações no período. Este resultado converge com o fato de que há mais editoras brasileiras na lista de busca do Periódico. No entanto, não parece haver uma relação direta entre número de editoras incluídas e seu potencial para divulgação de obras nos campos da infância e juventude. Embora alguns países tivessem tido muitas editoras incluídas na lista (11 para Cuba e Uruguai, 21 para o Paraguai e 31 para o Peru), eles tiveram nenhuma (Cuba e Uruguai), ou apenas uma editora (Paraguai e Peru) que contribuiu com publicações sobre infância e juventude no período.

O que podemos constatar, com certa consternação, é que os campos de estudos e pesquisas científicas sobre infância e juventude não parecem exercer grande atratividade por parte das editoras. Isto nos fala das possibilidades mais rarefeitas de publicação sobre infância e juventude oferecidas pelas editoras, quando um número relativo bastante reduzido dentre elas parece se interessar na divulgação de estudos e pesquisas destes campos.

De maior relevância para nossa análise é o exame do número de publicações levantadas pelo Periódico e como se dá a distribuição das publicações por cada editora. Vemos que, no período em questão, foi divulgado um total de 210 títulos que se distribuem bastante irregularmente pelas 88 editoras que efetivamente publicaram sobre infância e/ou juventude. Agrupando as editoras pela frequência de títulos divulgados pelo Periódico no período, podemos ver como se dá a distribuição destas publicações pelas editoras. A Figura 2, abaixo, apresenta esta distribuição.

Figura 2: Distribuição da frequência de títulos divulgados pelas editoras

grafico 2
Digno de nota é o fato de que 50 editoras (56,82%) contribuem com apenas uma publicação no período analisado, no total de 210 títulos divulgados pelo Periódico. Esta parece ser a contribuição módica das editoras para o campo de estudos da infância e juventude. Outras vinte e cinco editoras (28,41%) contribuem com 2 ou 3 publicações no período. Assim, cerca de 85% das editoras contribuíram com uma, duas ou até três publicações no período. A Figura 3, abaixo, mostra quais editoras se destacam, com 3 ou até 28 publicações no período, na relação com as demais.

Figura 3: Distribuição da frequência de títulos publicados pelas editoras e nominata daquelas com a frequência de 3 a 28 publicações no período

grafico 3
Observa-se que a distribuição de editoras que tiveram livros divulgados contempla majoritariamente o Brasil, seguido de editoras da Argentina e Colômbia. Dentre as editoras que tiveram maior número de títulos divulgados (25% das contribuições no total de publicações levantadas) há quatro editoras brasileiras: CRV, EdUFBA, Mercado de Letras e Cortez.

A editora comercial CRV, do Paraná, destaca-se dentre todas, com 28 livros divulgados no período, 13,33% do total. Este dado chama a atenção pois, em seguida, as editoras comerciais Mercado de Letras e Cortez, ambas de São Paulo, publicaram, respectivamente, 4,29% e 3,81% dos livros divulgados pelo Periódico, ocupando a segunda e a terceira posição em relação ao número de livros por editora. Depois destas quatro editoras brasileiras citadas, aparecem editoras argentinas, em especial, Miño y Dávila, Noveduc e Brujas, que foram responsáveis, cada uma, por 3,33% dos títulos divulgados pelo Periódico. A editora CLACSO, também da Argentina, especializada em publicações na área de Ciências Sociais, contribuiu com 2,86% das publicações.

Coube à editora universitária da Universidade Federal da Bahia (EdUFBA) a melhor posição, dentre as editoras universitárias, em número de publicações, com 3,81% dos títulos divulgados pelo Periódico.

Lucia Rabello de Castro lrcastro@infolink.com.br

Professora Titular do Programa de Pós-graduação em Psicologia, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Pesquisadora Senior do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Brasil. Editora Chefe da revista DESidades.

Isa Kaplan Vieira i.kaplanvieira@gmail.com

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui graduação em Psicologia pela mesma Instituição. Integra o Núcleo de Pesquisa para Infância e Adolescência Contemporâneas (NIPIAC/UFRJ). Atua como Editora Assistente no periódico DESidades - Revista Eletrônica de Divulgação Científica da Infância e Juventude.

Juliana Siqueira de Lara j.siq.lara@gmail.com

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui graduação em Psicologia pela mesma Instituição. Integra o Núcleo de Pesquisa para Infância e Adolescência Contemporâneas (NIPIAC/UFRJ). Atua como Editora Assistente no periódico DESidades - Revista Eletrônica de Divulgação Científica da Infância e Juventude.

Karima Oliva Bello koliva2009@gmail.com

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre em Psicologia pela Universidad de la Habana, Cuba (UH) e graduada em Psicologia pela mesma instituição. Professora Assistente da Universidad de la Habana. Integra o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas (NIPIAC/UFRJ). Atua como Editora Assistente no periódico DESidades - Revista Eletrônica de Divulgação Científica da Infância e Juventude.

Sabrina Dal Ongaro Savegnago sabrinadsavegnago@gmail.com

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e graduada em Psicologia pela mesma instituição. Integra o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas (NIPIAC/UFRJ). Atua como Editora Assistente no periódico DESidades - Revista Eletrônica de Divulgação Científica da Infância e Juventude.