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Análise da produção bibliográfica em livros sobre a infância e a juventude na América Latina

3.3 Análise da distribuição da produção brasileira em livros sobre infância e juventude

No caso do Brasil, foi possível qualificar os dados sobre as publicações segundo o tipo de editora, comercial ou universitária. Para os outros países da América Latina, esta informação coloca dificuldades adicionais para a equipe, no sentido de não se ter condições de verificar o estatuto das editoras universitárias e se este estatuto é comparável entre países latino-americanos. Portanto, nesse aspecto, nossa análise ficou restrita à situação brasileira.

Figura 8: Distribuição de frequências das publicações por estado do Brasil, segundo o tipo de editora (comercial ou universitária)

grafico 8

Na Figura 8 observa-se que São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro se destacaram nas publicações em editoras comerciais, representando, respectivamente, 37,50%, 28,85% e 22,12% dos títulos divulgados pelas editoras comerciais. O número de editoras comerciais incluídas na lista de busca foi de 47 de São Paulo, 42 do Rio de Janeiro e 3 do Paraná. Destas, 14 editoras comerciais de São Paulo, 11 do Rio de Janeiro e 2 do Paraná tiveram obras incluídas no levantamento bibliográfico. Desse modo, pode-se observar uma concentração nas editoras comerciais na região Sudeste do país, que detêm o predomínio dos títulos divulgados neste eixo Sul-Sudeste do Brasil.

No entanto, se por um lado houve um número elevado de publicações por editoras comerciais em São Paulo e Rio de Janeiro, por outro, nestes estados o desempenho das editoras universitárias é bem menos expressivo: São Paulo com 5,41%, e Rio de Janeiro com 8,11%, do total de títulos divulgados pelo Periódico em infância e juventude para este tipo de editora. Vale salientar que esta contribuição pouco significativa não se deve ao número reduzido de editoras universitárias listadas nestes estados, uma vez que foram pesquisadas 18 editoras universitárias de São Paulo e oito do Rio de Janeiro. Neste sentido, ao considerarmos as publicações de São Paulo e Rio de Janeiro por editoras universitárias, talvez seja possível afirmar que as mesmas não estejam contemplando a demanda de publicação nos campos de infância e juventude com a mesma eficiência que as editoras comerciais. Digno de nota é o fato de que a editora universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro, universidade que publica o Periódico, não teve sequer uma publicação no campo da infância e/ou juventude no período analisado.

Em relação ao número de livros em infância e juventude publicados por editoras universitárias, os estados que apresentaram maior número foram Bahia e Paraná. O Estado do Paraná pode ser considerado o que apresentou maior equilíbrio em relação ao número de publicações em editoras universitárias e comerciais, ocupando a segunda posição nas duas classificações, com 28,85% das produções de editoras comerciais e 18,92% das produções de editoras universitárias.

Nota-se que as publicações das editoras universitárias estão um pouco melhor distribuídas entre os estados brasileiros quando comparadas às das editoras comerciais, que tem uma maior concentração de publicações no Sudeste e no Sul do Brasil. Foram encontradas publicações em infância e juventude em editoras de universidades fora do eixo sul-sudeste, como na Bahia (24,32%), no Distrito Federal (8,11%) e no Ceará (5,41%).

Não foram encontradas publicações de livros sobre infância e juventude nas editoras universitárias consultadas dos seguintes estados brasileiros: Pernambuco, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Amazonas, Mato Grosso, Piauí, Roraima, Sergipe e Tocantins.

Considerações finais

O balanço da produção bibliográfica em livros sobre infância e juventude nos países latino-americanos realizado neste estudo nos permitiu construir um olhar analítico e crítico sobre a caracterização e as tendências desta produção, que se mostra incipiente no contexto da América Latina. Temos em mente as limitações do estudo apresentado, já que o número de editoras de países latino-americanos de língua espanhola é relativamente bem menor que o das editoras brasileiras incluídas. Contudo, a desatualização de muitos sites de editoras torna difícil, quase impossível, a busca de lançamentos de publicações e o acesso ao catálogo atualizado em alguns países da América Latina.

Os resultados indicam o que parece se configurar como uma falta de atratividade do mercado editorial para a publicação de obras científicas sobre a infância e/ou juventude, seja pelas editoras comerciais ou universitárias. Nos sites e nos e-mails trocados com editoras ficou nítida a prevalência do interesse pela área de literatura infanto-juvenil, cujas publicações aparecem em abundância, em contraponto às publicações científicas. Além disso, proliferam os manuais didáticos da área da Educação.

Em relação às publicações científicas, as editoras que publicaram algum título, publicaram, modalmente, uma única obra ao longo do período analisado, ou seja, um ano e meio. Brasil, Argentina, México e Chile foram os países que mais tiveram títulos divulgados pelo Periódico.

A infância e a juventude aparecem como campos eminentemente transdisciplinares, a se julgar pelas áreas a que podem ser atribuídas as publicações divulgadas, na sua maioria pertencentes a duas ou mais áreas das Ciências Humanas e Sociais. No entanto, ressalta-se a prevalência da área da Educação que, como área única, detém a maior produção de livros nesses campos.

Entretanto, são os títulos que não fazem menção à infância e à juventude nos seus resumos que pertencem integralmente à área da Educação. Essa se apresenta, tradicionalmente, como aquela que se ocupa de pesquisar os processos de transmissão inter-geracional, formais e não formais, aos quais está submetida a maioria das crianças e jovens. Ainda que as publicações sobre a temática da transmissão educacional se refiram diretamente a esses sujeitos ao abordar, por exemplo, o ensino, a aprendizagem, as estratégias metodológicas didáticas, a instituição escolar, elas não apresentam os sujeitos-fins de suas atividades investigativas como foco e sub-temática importante das investigações. Constata-se, portanto, a invisibilização que esta área faz da infância e da juventude, que muitas vezes são sequer mencionadas como aspectos que definem a produção bibliográfica na área da Educação. A nosso ver, este fato parece aludir à fantasia adultocêntrica de que a pesquisa em educação pode acontecer, para além do educando.

Vimos também que os campos de estudo infância, adolescência e juventude estão estreitamente relacionados, não existindo limites que os separem com precisão. São campos que aparecem frequentemente juntos nas investigações. A conjunção, ou a separação, destes campos coloca desafios conceituais que ainda necessitam ser aprofundados.

Por fim, as dificuldades encontradas no trabalho de mapeamento das publicações sobre infância e juventude na região também apontam para a carência de canais efetivos de comunicação entre os países latino-americanos, apesar de sua proximidade geográfica. Essa constatação limita notoriamente o fluxo de informações sobre as pesquisas entre os países latino-americanos, assim como as possibilidades de criar redes de trabalho que permitam pensar em conjunto e coletivamente as problemáticas que afetam a crianças e jovens destes países. Portanto, a contribuição para a estruturação e consolidação dos campos da infância e da juventude depende de esforços menos comedidos no que tange à produção, manutenção e divulgação da bibliografia em livros sobre crianças e jovens.

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Resumo

Este artigo, empreendido por integrantes da equipe do periódico DESidades, examina e discute criticamente algumas tendências a partir de um trabalho minucioso de buscas de obras científicas publicadas sob a forma de livro, nas áreas de Ciências Sociais e Humanas, no âmbito dos países latino-americanos, que se desenvolve desde o lançamento desse periódico. A análise dos levantamentos bibliográficos evidenciou que, ao longo do período de janeiro de 2014 a junho de 2015, essa produção se apresenta incipiente e pouco acessível, revelando que o mercado editorial na América Latina para a publicação e divulgação de obras científicas sobre esses campos se mostra problemático. As publicações encontradas apontam para a prevalência da área da Educação como aquela que detém a maior produção de livros, sendo esta mesma área aquela que não faz menção às crianças e aos jovens nos resumos de suas obras, atestando uma invisibilização desses sujeitos nos processos educacionais em que estão inseridos, mostrando-se controversa. Muitos desafios são apontados por esse mapeamento, o que nos faz refletir sobre os esforços menos comedidos que devemos coletivamente assumir para que os campos da infância e juventude se estruturem e se consolidem na América Latina.

Palavras-chave: produção bibliográfica, infância, juventude, América Latina.

Data de recebimento: 31/09/2015
Data de aprovação: 04/11/2015

 

Lucia Rabello de Castro lrcastro@infolink.com.br

Professora Titular do Programa de Pós-graduação em Psicologia, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Pesquisadora Senior do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Brasil. Editora Chefe da revista DESidades.

Isa Kaplan Vieira i.kaplanvieira@gmail.com

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui graduação em Psicologia pela mesma Instituição. Integra o Núcleo de Pesquisa para Infância e Adolescência Contemporâneas (NIPIAC/UFRJ). Atua como Editora Assistente no periódico DESidades - Revista Eletrônica de Divulgação Científica da Infância e Juventude.

Juliana Siqueira de Lara j.siq.lara@gmail.com

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui graduação em Psicologia pela mesma Instituição. Integra o Núcleo de Pesquisa para Infância e Adolescência Contemporâneas (NIPIAC/UFRJ). Atua como Editora Assistente no periódico DESidades - Revista Eletrônica de Divulgação Científica da Infância e Juventude.

Karima Oliva Bello koliva2009@gmail.com

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre em Psicologia pela Universidad de la Habana, Cuba (UH) e graduada em Psicologia pela mesma instituição. Professora Assistente da Universidad de la Habana. Integra o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas (NIPIAC/UFRJ). Atua como Editora Assistente no periódico DESidades - Revista Eletrônica de Divulgação Científica da Infância e Juventude.

Sabrina Dal Ongaro Savegnago sabrinadsavegnago@gmail.com

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e graduada em Psicologia pela mesma instituição. Integra o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas (NIPIAC/UFRJ). Atua como Editora Assistente no periódico DESidades - Revista Eletrônica de Divulgação Científica da Infância e Juventude.