Foto: Martha Barros

Des-idades, Poesias e Lutas: Articulações e Rupturas1

Nutrindo a luta e para a luta

Na poesia e na luta, há o nutriente da delicadeza e da irreverência, de utopias e subversões; de resistências e de encontros. Há lutas que, em parcerias, conservamos e cultivamos dentro e fora de nós. A propósito, assim se expressou uma jovem militante, durante evento11 realizado em Fortaleza, em maio de 2014, “A gente luta bastante e festeja bastante”.

Ainda a respeito de parcerias, sobre as quais nos falavam, há pouco, Francis Hime e Milton Nascimento, há uma pulsante expressão, utilizada por Mia Couto (2005), no livro ‘O último voo do flamingo’, ao falar do “tear de interexistências a que chamamos ternura.” (p.110)

É neste campo de (re)ações e (re)configurações, que vislumbro o vigor da expressão que se segue, do movimento Hip Hop, ao nos conclamar a estar ‘junto e misturado’, para, na realidade concreta, construir a superação da segregação e da opressão.

E me dou conta de tantas parcerias que firmei e reafirmei, ao longo da construção deste texto, entre despropósitos e utopias, poesias e lutas. E sinto que vou seguir firmando-as, ao partilhar o seu conteúdo, por meio de sua publicação.

Ademais, ir à luta, fazer-nos luta, ultrapassa obstáculos e vislumbra, por certo, algo diferente, desejado, pungente. Encontro ressonância no que diz Chico Buarque, “apesar de você, amanhã há de ser, outro dia”. Des-idades, luta, poesia.

Aliadas à poesia e à luta, reconheço na indignação e na esperança forças incomensuráveis de des-idades. Ou será que elas – indignação e esperança – é que são forças para as des-idades? Ou, mais ainda, será que elas – luta, poesia, indignação e esperança – estão presentes nas des-idades, e as des-idades presentes em todas elas?

Versos do compositor Belchior iluminam minha compreensão, “o que transforma o velho no novo/ Bendito fruto do povo será”12.

E, assim, no reino da poesia e das lutas, da indignação e da esperança, da irreverência e dos encontros, a travessia se faz, des-idades se presenciam, se concretizam. Militância pela vida e na vida, e em estado de poesia. Sempre.

11 – Seminário “A Cidade para Quem? Crise Estrutural do Capital e Perspectivas de Superação”, promovido pelo Comitê Popular da Copa, CEDECA-Ceará (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente) e Diaconia ActAlliance.
12 – Trecho da música “Como o Diabo Gosta”. A letra completa pode ser encontrada em www.letras.mus.br/belchior Acesso em: 10 mai. 2014.

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Sítios Eletrônicos
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Resumo

O texto busca uma articulação possível entre des-idades, poesias e lutas. Para tanto, lança mão de alguns textos poéticos, de autores brasileiros (Mário Quintana, Cora Coralina, Manoel de Barros, Belchior, Chico Buarque, Francis Hime e Milton Nascimento) e estrangeiros (Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Leon Gieco, Mia Couto, José Saramago), que abordam a força da poesia, no sentido de fazer-se despropósitos, revelar o cotidiano, interrogá-lo e levar-nos a desassossegos e reflexões sobre rupturas de dimensões que possam impedir a concretização da vida e contribuir para as transformações de ordens estabelecidas com as quais não se concorda. Os conteúdos dos poemas são relacionados a conceitos de luta (J. Comerford; Plínio de A. Sampaio), ação política (Alba Carvalho; Carlos Nelson Coutinho); utopia (K. Mannheim) e à desconstrução possível da rigidez que usualmente é imposta a noções de idades.

Palavras-chave: poesia, luta, utopia, (des)idades.

Data de Recebimento: 11/06/15
Data de Aprovação: 01/11/15

Ângela Pinheiro a3pinheiro@gmail.com

Psicóloga, doutora em Sociologia, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Brasil, integrante do Núcleo Cearense de Estudos e Pesquisas sobre a Criança (NUCEPEC/UFC), autora do livro ‘Criança e adolescente no Brasil: Porque o abismo entre a lei e a realidade’ (Edições UFC, 2006).