Em relação à luta indígena pela demarcação de terras indígenas, é relevante mencionar que várias comunidades indígenas Guarani e Kaiowá foram expulsas, dispersas de suas terras tradicionais ao longo do século XX, reassentadas nos “Postos ou Reservas Indígenas”, criados pelo órgão indigenista (Serviço de Proteção aos Índios) entre 1915 e 1930. Diante disso, em meados de 1970, as lideranças das comunidades expulsas começaram a reivindicar a demarcação das terras tradicionais (tekoha) de onde os indígenas haviam sido expulsos. Assim começou a realização da reunião intercomunitária, grande assembleia (Aty Guasu) Guarani e Kaiowá, resistência e luta pela recuperação das parcelas de suas terras tradicionais.
Na grande assembleia (Aty Guasu), as lideranças idosas, juntamente com os jovens Guarani e os Kaiowá, realizam troca de experiências, debatem, concebem e interpretam as significações da realidade cotidiana por eles vivida e experimentada conforme a sua cosmovisão, que assim vai se renovando com as experiências recentes.
Na assembleia política intercomunitária e nos rituais religiosos, os jovens e líderes idosos desenvolvem as explicações entre eles e planejam as suas ações novas neste contexto histórico de relações com os não índios.
No tocante ao ensino sobre a vida ou a cultura de outro povo não índio, é orientado à criança e aos jovens, antes de ir à escola da cidade, como devem se comportar respeitosamente com não índios nas cidades. Durante a realização de atividades escolares, de compra de mercadoria, as crianças aprendem a interagir com os não índios. A mãe e a avó alertam aos inexperientes que a cidade está cheia de não índios maléficos, temidos, assustadores, por isso não devem dialogar com os não índios violentos e desconhecidos.
As assembléias comunitárias e intercomunitárias políticas, os eventos cerimoniais sagrados e profanos são momentos fundamentais, em que ocorrem ensinamentos vitais. Assim sendo, essas práticas pedagógicas do povo Guarani e Kaiowá são desenvolvidas nos eventos religiosos e profanos. Todas essas atividades educativas são realizadas oralmente em língua indígena, de modo repetitivo, sobretudo, com muita paciência e carinho, conforme a concepção de mundo do povo Guarani e Kaiowá.
Assim, a educação indígena é sempre fundamentada nos exemplos de seus antepassados e parentes que moram no lugar-terra sagrada, lugar no cosmos, localizado acima da Terra. Por essa razão, todas as atividades educativas baseiam-se nos comportamentos e atitudes dos “deuses” ou guardiões (jara), seres protetores dos indígenas, entendidos como os responsáveis pelo monitoramento do modo correto da vida sagrada dos indígenas. Nesse sentido, procuram assumir aqui na Terra uma vivência e atitude o mais similar possível à de sua família de origem localizada no cosmos Guarani.
Como já dito, a grande reunião política e os eventos religiosos são realizados justamente para confirmar e demonstrar às crianças os comportamentos adequados e atitudes morais vividas e aprovadas pelo povo. Desse modo, os líderes espirituais se dedicam a adaptar as novas gerações à vida semelhante à dos parentes e irmãos do cosmos. As crianças diariamente recebem orientações e aconselhamentos complementares e é ensinado a elas que o desrespeito aos regulamentos de seu povo deverá causar muitos problemas tanto para os indivíduos quanto para as famílias extensas. Todos os atos e atitudes cotidianas dos membros de uma família extensa terão consequências positivas ou negativas tanto para a família quanto para o povo ao qual pertence.
As regras do povo indígena Guarani e Kaiowá exigem também que os jovens e crianças participem dessa reunião intercomunitária, rituais religiosos e festa tradicional profana.
Na lógica educativa dos Guarani e Kaiowá, o ensino-aprendizagem é algo que ocorre continuamente e de modo contextualizado. Dessa forma, as crianças e jovens aprendem como devem se comportar, viver e lutar de acordo com o modo de ser e viver de povo indígena Guarani e Kaiowá.
As crianças e jovens estão sempre participando das assembleias e da luta da sua comunidade, buscando instrumentos eficazes para apoiar as demandas contemporâneas de seu povo. A seguir, é apresentada a utilização da internet pelo movimento político dos jovens indígenas para fortalecer as reivindicações da assembleia geral (Aty Guasu) do povo Guarani e Kaiowá.