Considerações finais
É possível considerar que as percepções dos(as) jovens sobre as estruturas objetivas rompem com a concepção homogênea acerca dos sertanejos enquanto sujeitos flagelados pela seca e distantes do progresso amplamente difundido na sociedade. Pelo contrário, os(as) participantes da pesquisa revelaram sua complexidade, sendo desejosos por formações profissionais distintas e qualidade de vida.
De maneira geral os(as) jovens possuem uma imagem positiva da escola, mas não desqualificam os infortúnios perpassados no processo de escolarização, sendo diferentes os modos como vivenciam os desafios. Para alguns, o maior obstáculo é transpor as dificuldades em relacionar trabalho e estudos, outros, em relacionar estudos e filhos, tendo, por fim, os(as) jovens cuja concentração de energia está em serem reconhecidos pelos professores diante sua devoção à conclusão do ensino médio.
Chegar ao final da educação básica em nada se configura como uma situação natural para os(as) jovens sertanejos de Alagoas. Os percalços supracitados, dentre outros observados ao longo de nossa estadia na escola, como a dificuldade de transporte do povoado até a cidade na intenção de ir à escola, comprovam as resistências e enfrentamentos na continuidade dos estudos. Finalizá-los com ingresso na universidade ou no mercado de trabalho numa boa posição trata-se da superação de obstáculos, de uma vitória individual, familiar e até mesmo do grupo social marginalizado. Os projetos de vida, portanto, tomam dimensões maiores que a mudança no extrato econômico, repercute uma trajetória de luta no campo biográfico dos sujeitos.
Também, mergulhados em suas diferenças, os(as) jovens não perderam de vista os limites da escola em propor momentos de descontração para suavizar a tarefa dos estudos e a elaboração de projeções para vida. No respectivo contexto, eles e elas indicaram que a escola pode propor atividades culturais e de orientação para reduzir as aflições que assolam o ensino médio. Em outras palavras, é indispensável perceber os(as) jovens em sua totalidade, uma vez que, ao cruzarem os portões da escola para assumir a condição de aluno(a), carregam consigo suas expectativas, angústias e modos próprios de subjetivação do mundo.
Por fim, esperamos com este trabalho a colaboração na ampliação dos contextos sociogeográficos e temáticas de pesquisas referentes às juventudes, bem como colocar em causa as pragmáticas concepções de que as trajetórias escolares e os projetos de vida dos jovens sertanejos estão definidos pelo destino de classe ou por suas origens locais.
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Resumo
O artigo problematiza os projetos de vida e a relação com a escola de jovens alunos do 3° ano do ensino médio do sertão de Alagoas, cidade Delmiro Gouveia. Tratam-se de resultados parciais da dissertação de mestrado desenvolvida numa perspectiva quali-quantitativa, por meio de questionário estruturado envolvendo 116 jovens, entrevista coletiva com nove alunos(as) e observações da rotina escolar. Refletimos sobre a importância dos projetos de vida para a mudança social dos(as) jovens, num cenário em que o contexto da seca, frequentemente explorado pelas mídias, invisibiliza outros aspectos igualmente relevantes, a saber, a escolarização, os sonhos, a luta por dias melhores. Os desafios que permeiam esses projetos emergem nas falas dos(as) alunos(as), indicando os aspectos subjetivos e estruturais que se entrecruzam constantemente. Ser alguém na vida e colaborar com o sustento da família de origem foram dois eixos comuns aos depoimentos dos(as) jovens que estão no último ano do ensino médio.
Palavras-chave: ensino médio, juventude, jovens, projetos de vida.
Data de recebimento: 08/09/2019
Data de aprovação: 01/12/2019
School and Life Projects: what young people from Alagoas outback say
Abstract
The article discusses life projects and the relationship with the school of young students of the 3rd year of high school, in the interior of the Alagoas backwoods, Delmiro Gouveia city. These are partial results of the master’s dissertation developed in a qualitative and quantitative perspective, through a structured questionnaire involving 116 young people, a collective interview with 9 students and observations of the school routine. We reflect the importance of life projects for the social change of young people, in a scenario in which the context of drought, often explored by the media, obscures other equally relevant aspects, such as schooling, dreams, the fight for better days. The challenges that permeate these projects emerge in the students’ statements, indicating the subjective and structural aspects that constantly intersect. Being someone in life and contributing to the support of their families were two common axes to the testimonies of young people who are in their last year of high school.
Keywords: high school, youth, young people, life projects.