Introdução
A pesquisa A dimensão educativa das organizações juvenis: estudo dos processos educativos não formais e da formação política no interior de organizações juvenis de uma universidade pública do interior de Minas Gerais1, realizada pelo Grupo de Estudos sobre a Juventude da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG)2, Brasil, base para as considerações deste artigo, teve como objetivo conhecer as práticas de formação política vividas pelos coletivos juvenis em uma universidade mineira. Tratou de seis coletivos formados por estudantes da universidade: três de caráter político; um cursinho popular; um coletivo cultural e um grupo evangélico. Entre as técnicas de pesquisa, destacaram-se a coleta de dados, a observação participante e as entrevistas semiestruturadas.
Em outros trabalhos (Groppo et al., 2019; 2017), discutimos os resultados da pesquisa de campo, com diversas observações sobre a metodologia de pesquisa. Este artigo tem o objetivo de debater especificamente sobre o uso da observação participante, a qual caracterizou esta pesquisa como de tipo etnográfico. Em especial, o artigo busca compreender a importância das relações entre pessoas adultas e jovens em uma pesquisa desse tipo, combinando olhares, perspectivas e presenças em uma observação participante.
Para tanto, destaca a experiência de campo em dois eventos da União Nacional dos Estudantes (UNE), refletindo sobre a importância da observação participante nesses casos, sendo fundamental para criar confiança e cumplicidade com os sujeitos pesquisados de modo a conhecer o contexto mais geral do movimento estudantil – ou seja, o seu macro-espaço público –, e enriquecer o diálogo durante as entrevistas semiestruturadas. Ainda, o artigo reflete sobre a contribuição ímpar que jovens podem dar à própria equipe de pesquisa, como pesquisadoras e pesquisadores.
Pesquisa de tipo etnográfico e observação participante
A tática da observação participante, acolhida por nossa pesquisa, teve como objetivo o acesso à dimensão coletiva vivida por estudantes que investigávamos. A intenção era fazer uso de algumas das importantes qualidades da etnografia, esse conjunto de práticas investigativas que visa conhecer em profundidade o modo de viver e de pensar de grupos sociais, tão bem desenvolvidas pela Antropologia. Entre essas qualidades, o possível acesso aos valores culturais da maneira como são vividos na prática, aplicados a exemplos concretos, em momentos ordinários ou mesmo dramáticos da vida dos sujeitos pesquisados (Fonseca, 1999; Brandão, 2007).
Nossa pesquisa, entretanto, tinha como principal objetivo conhecer os processos educativos de caráter informal e não formal vividos pelos coletivos juvenis da universidade mineira. Dado o foco, típico das pesquisas educacionais, em que o interesse não é a descrição completa ou exaustiva da totalidade da vida de um grupo social, certos requisitos tidos como clássicos da etnografia não precisaram ser cumpridos, em especial, a longa permanência. É por isso que, na educação, o que temos, normalmente, são pesquisas de tipo etnográfico, segundo Marli André (1995), que fazem uso de algumas das táticas costumeiras da etnografia.
Mas também há requisitos que não poderiam ser cumpridos, ao menos nesse caso, já que o que era investigado era relativamente familiar. Diversas atividades desses coletivos eram cotidianamente testemunhadas pelo Grupo de Estudos sobre a Juventude. Assim, boa parte dos sujeitos observados em ação, bem como diversas práticas e discursos dos coletivos estudantis, não eram exatamente estranhos, o que reforça nossa pesquisa como sendo de tipo etnográfico.
O estranhamento, entretanto, seria conquistado justamente quando a autora e o autor observaram grandes eventos nacionais dos quais os sujeitos pesquisados participaram, como os eventos da UNE. Tratava-se de acontecimentos não familiares, tanto para quem fazia a observação, quanto para boa parte das e dos estudantes dos coletivos que, em sua maioria, nunca tinha participado desse tipo de evento. Desse modo, a imersão nos eventos nacionais do movimento estudantil permitiu certo estranhamento em relação à situação pesquisada, o que foi bastante profícuo, em especial, para a construção de problemas a investigar (Fonseca, 1999).3
2 – Projeto de extensão em interface com a pesquisa coordenada por Luís Antonio Groppo, composta de estudantes de graduação e pós-graduação da UNIFAL-MG, além de estudantes do Ensino Médio com bolsa de Iniciação Científica Júnior e membros da comunidade externa.
3 – O principal instrumento de pesquisa, quando ela é etnográfica ou de tipo etnográfico, é o próprio sujeito que pesquisa. Sujeito esse que está implicado com o campo, por meio de seu corpo e de seus sentidos (Oliveira, 2006).