Leo Lopes

Sobre a invisibilidade social das juventudes rurais

4)  A diversidade das juventudes rurais
Conhecer um fenômeno é diferenciá-lo dos demais e perceber sua complexidade interna. Consequentemente, para superar a situação de invisibilidade, não basta desenvolver estudos que tenham nos jovens os sujeitos investigados. É preciso antes problematizar a própria construção do objeto, ou seja, as relações sociais nas quais os jovens se inserem e que fazem da própria categoria juventude uma construção social em disputa. Com efeito, fazem-se necessárias não apenas uma teoria sobre a juventude e outra sobre os diversos processos sociais agrários, mas também construtos teóricos que sintetizem a complexidade de suas implicações recíprocas. Mas como podemos definir a especificidade dos jovens que nos dedicamos a conhecer?
Entendemos que a especificidade dos jovens resulta dos processos de socialização nos quais eles estão inseridos. Ou seja, em termos sociológicos, é a socialização que define o jovem, ou de qual jovem falamos. Para conferir maior precisão analítica à juventude como categoria social e aos jovens como sujeitos históricos, é importante considerar os processos de socialização nos quais eles se inserem, buscando identificar a agência socializadora predominante, o que lhes confere uma posição determinada no espaço social. Este posicionamento, categorizar os jovens por sua socialização principal, rompe com as definições de caráter substancialista sobre a juventude, possibilitando construir a categoria analítica de modo relacional, isto é, em termos de sua posição num espaço de relações sociais. Com efeito, a reconstrução sociológica da situação juvenil, com base no processo de socialização, confere maior coerência à proposta de privilegiar as noções de juventudes e jovens no plural.
Entendemos que a superação da invisibilidade social das juventudes rurais não se efetivará por meio da reprodução dos recortes demográficos ou critérios normativos que demarcam os limites etários. Tampouco pela aplicação, sem por à prova, das categorias prestabelecidas a partir da dicotomia rural-urbano, mesmo que fixadas no senso comum, nos discursos políticos ou no campo acadêmico. Este é o caso da categoria “juventude rural”, que é forjada a partir de uma ótica urbana que percebe o rural como um espaço da precariedade social, reforçando, mesmo que involuntariamente, o estigma sobre este segmento. Desta maneira, a homogeneização das diferenças no interior de uma categoria mais ampla, como a de “juventude rural”, acaba contribuindo para perpetuar a invisibilidade sobre a diversidade dos modos de vida e processos de socialização no campo e que produzem categorias juvenis diversas no meio rural. Isto porque tal procedimento dificulta o reconhecimento das especificidades que emergem de diferentes situações juvenis no meio rural, gerando tipos sociais distintos, tais como os jovens agricultores familiares, os jovens assalariados rurais, os jovens quilombolas, os jovens extrativistas, jovens pescadores, jovens indígenas e tantos outros. Ou seja, queremos chamar a atenção para o fato de que não existe uma juventude rural, mas muitas juventudes rurais. Superar a invisibilidade das juventudes rurais implica em reconhecer que ela não é simplesmente um elemento da diversidade, mas que contém, ela mesma, toda uma diversidade de tipos sociais.

Referências bibliográficas

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Palavras-chave: Juventudes rurais. Invisibilidade social. Pesquisas acadêmicas.

Nilson Weisheimer weisheimer@pq.cnpq.br

Doutor em Sociologia (UFRGS). Professor Adjunto do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL/UFRB). Professor Permanente do Programa de Pós Graduaçao em Ciências Sociais (PPGCS/UFRB). Cordenador do Nucleo de Estudos em Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural (NEAF/UFRB) e do Observatório Social da Juventude (OSJ/UFRB). Vencedor do Prêmio Capes de Teses 2010, com o trabalho "A Situação Juvenil na Agricultura Familiar”.

Nilson Weisheimer