As batalhas de rima – cumplicidade e valores grupais
As tradicionais batalhas de rima geralmente contam com o mestre de abertura da cerimônia. Neste trabalho, a própria pesquisadora se propôs a fazer a abertura das batalhas, seguida por uma dupla de grupos opostos que começaram a duelar se “zoando” e rimando, enquanto o duelo era avaliado pelo júri que assistia e torcia.
As crianças estavam muito entusiasmadas, batendo palmas, fazendo diversos barulhos com o corpo; seus movimentos eram frenéticos e, ao término das aberturas iniciais, faziam sons como: “êêêêêêêêêêê”. A alegria e o vigor imperavam nesses momentos. Porém, um aspecto que se repetiu em quase todas as pelejas foi que nem sempre o melhor rimador era o mais ovacionado pelo grupo. No trecho abaixo, mesmo Lu não tendo conseguido criar uma rima no final, seu grupo gritava seu nome, junto com o som: “uôôôôôôôôô! Não tem jeito, já venceu!”.
[…] Vieram de muitos lugares, até de Japeri! Agora vamos chamar esses dois grupos pra fazer as suas rimas. São crianças inteligentes que sabem o que vão combinar e agora a disputa vai começar!
Lu: Oh Dan deixa eu te levar um papo, cala a sua boca, seu cara de carrapato, a minha condição é maior do que a sua, eu quero que você vá tomar uma injeção da chikungunya!
Enquanto Lu rimava, Dan ajoelhou na sua frente para ouvir a rima. Em seguida, levantou-se e disse:
Dan: Oh Lu, tô te mandando um papo reto sem neurose e sem caô, a tua boca fede a cocô, depois cocô!
Lu: Oh Dan, eu fui na tua casa e fede a cocô e fede a rato! Deixa eu te mandar um papo, cala a sua boca, bunda de girafa e cara rachada! (falou essa rima com a mão na boca, fazendo um gesto como se estivesse direcionando a voz apenas para o adversário, gesto comum, usado pelos MCs durante as batalhas).
Dan: Eu vou falar pra tu, sem neurose nem caô, tu não sabe nem rimar, tua rima fede a cocô, eu vou falar pra tu, essa daqui é na moral, eu vou fazer contigo o que eu fiz com mano Brown! Eu vou falar pra tu, sem neurose e sem caô, tu quer falar de mim, mas tu ainda é um cocô!
Lu: Eu vou te mandar esse papo, Dan, você presta atenção, você tem bafo de camaleão!
A torcida do Lu começa a gritar e a pressionar o Dan.
Dan: O Lu, deixa eu te mandar um papo, cara de martelo e um monte de carrapato!
Lu: O Dan, deixa eu te mandar um papo, cara de martelo e um monte de carrapato!
No final dessa sequência, Lu rima, mas repete exatamente o que Dan tinha acabado de falar e ninguém questionou. Ficaram dizendo que estava quatro a dois para o Lu com o apoio do júri infantil. Dan, gesticulando com as mãos na direção do opositor, discordava. No entanto, o grupo de Lu, após sua rima, repetiu o mesmo som: “uôôôôôôôôô!”. Cabe colocar que o Lu era primo de Ni (menina líder do grupo), portanto, a proximidade (laço de parentesco) de Lu e Ni parece ter influenciado a vitória de Lu entre as crianças. Não houve um reconhecimento da qualidade das rimas do Dan que foram mais articuladas. Parece que a cumplicidade anterior à brincadeira, existente entre os grupos, consistiu no critério mais importante para o movimento do grupo de definir o vencedor. A desenvoltura de certos oponentes não pareceu alterar o resultado da batalha; é como se o lugar de sucesso estivesse garantido pelos laços de maior proximidade que um dos personagens tem com o grupo.
No entanto, mesmo com uma aparente proteção dada pelos vínculos grupais preestabelecidos, isso não significou que, no decorrer das batalhas, não fosse possível observar que certa criança, com pouca popularidade, tivesse sua posição modificada a partir da sua desenvoltura na rima, passando a ser chamada com mais frequência pelos colegas para compor os times de futebol. A título de exemplo, durante as partidas de bola, essa criança, que normalmente ficava esperando a sua vez como reserva, passou a ser uma das primeiras a ser escolhida para jogar. Antes das batalhas, ela não ocupava um lugar de importância e houve certa surpresa em relação ao seu desembaraço. É o que podemos perceber na disputa abaixo:
[…] Agora estamos aqui reunidos nesta escola para fazer mais uma batalha de rima entre as crianças que sabem rimar, elas são alegres e gostam de brincar, do lado esquerdo tem um grupo, do lado direito tem outro grupo (ao falar o nome dos dois grupos as crianças se agitam). E agora elas vão começar a disputar, aqui pode zoar, mas não pode magoar!
Y: Agora eu mando um papo: se liga, eu estou no ar, cabeça de martelo e pé de carrapato!
Gui: Eu vou mandar um papo, o meu é sem gracinha: cala a sua boca, a sua cara é de calcinha; a minha condição é melhor do que a sua, eu quero que você vá tomar injeção na chikungunya!
Y: Agora fica ligado, porque eu fui na tua casa e tinha um cavalo!
Gui: Eu vou mandar um papo, o papo no sapatinho, cala a tua boca, seu manguinho, bagulho é na moral, bagulho é sem gracinha, cala boca seu cara de carapinho!
Y: Agora, bora pro pau, cala tua boca e agora eu já mandei, te liga na tua responsa, olha o teu bafo é de onça!
Gui: Eu vou mandar um papo, o papo é sem gracinha, cala sua boca sua cara de calcinha, o bagulho é na moral, bagulho é sem neurose, cala a sua boca você tem verminose! (Gui falou muito aceleradamente sem errar, seguindo sem intervalo com um novo conjunto de versos rimados e provocativos).
Gui: Eu vou mandar um papo: o Y é sem gracinha, aqui o papo é reto, aqui é na moral, cala sua boca, seu cara de bacalhau! O papo agora acabou e já perdeu, cala a sua boca, que só tem você e eu!
Y: Agora eu mando um papo, se liga agora eu falo: tu é um monte de carrapato, se liga agora eu falo, tua cara é de cavalo!
Gui: Olha pro bagulho, o negócio é eu e tu, cala sua boca, seu cara de urubu, o bagulho é na moral, o bagulho é sem gracinha, eu sou faixa preta e tu é faixa calcinha, bagulho é sem neurose, bagulho é na moral, cala sua boca, seu cara de bacalhau!
Houve uma enorme animação e as crianças do grupo do Gui começaram a gritar “Gui! Gui! Gui!”. Por outro lado, a torcida do Y vaiava bem alto. Gui, através de sua agilidade em rimar, passou a ser uma criança mais aclamada pelos amigos nas batalhas e procurada por eles em outros momentos. Podemos dizer que a habilidade de rimar nesta brincadeira também propiciou a formação eventual de vínculos, antes não existentes, pois quando a criança era bem sucedida durante as respostas ao ataque, parecia “crescer” diante dos demais. A habilidade de resposta correspondia publicamente à autoafirmação diante do rival e ao seu enriquecimento no grupo. Dessa maneira, observamos que a brincadeira permitiu a alteração de vínculos entre as crianças, da mesma forma que corroborou a existência de vínculos já existentes.
Em muitos momentos, para a pesquisadora, a sensação era de que o projeto não estava acontecendo como planejado, mas quando as crianças eram questionadas sobre o que tinham achado, diziam que tinha sido “muito legal”. Nesses momentos, elas manifestavam a aderência às suas próprias regras e a possibilidade de se ordenarem, mesmo demonstrando alguma desordem e eventuais conflitos possivelmente necessários. Em um dos encontros, houve a tentativa de a pesquisadora distribuir pequenos pedaços de papéis para as crianças escreverem suas rimas antecipadamente, dessa forma, as batalhas seguiriam mais organizadas. Sugestão que não teve aderência junto ao grupo, pois as crianças nunca chegaram a usar os papéis. A dica foi totalmente ignorada, pois a essência do jogo é o improviso.
Outro aspecto é que, do lugar de adulto que brinca com as crianças, não há como ser imparcial. Houve torcida por parte da pesquisadora quando um dos meninos que tinha muita dificuldade em sala de aula brilhou inúmeras vezes no palco, competindo em pé de igualdade com as outras crianças que costumavam ir muito bem nas tarefas escolares. Esse menino conseguia rimar prolongadamente durante as batalhas, sendo ovacionado pelos amigos do mesmo grupo e admirado pelos seus adversários. Nessas circunstâncias, não houve rivalidade suficiente para afetar a admiração dos colegas.
À medida que os encontros iam acontecendo, a disputa ia se intensificando e o ritmo e a duração das rimas iam aumentando, exigindo que os jogadores suportassem as humilhações e xingamentos. Faziam isso através das posturas corporais e a articulação de suas rimas. Tudo isso ia deixando as crianças mais acesas e mais agressivas. Ao tentar se autoafirmar, após ser atacada por um xingamento rimado, é possível que, em alguns momentos, uma criança tenha tido vontade de chorar, porém, sabia que isso poderia fazer com que se sentisse mais humilhada. Assim, parecia buscar forças em si mesma para continuar enfrentando o rival. Quando uma criança era vaiada e sabia que não tinha feito bem a rima, após o vexame, ela erguia o peito e se posicionava na direção do oponente, reiniciando a batalha para tentar se autoafirmar. Não havia desistência em público; a honra vinha em primeiro lugar.
O que vimos era claramente um limite delineado segundo as regras do jogo diante dos enfrentamentos mútuos. Havia uma satisfação com o jeito de brincar que fazia sobressair o mais ágil na fala, no gesto e no movimento, já que ninguém queria “pagar de otário”. Essas formas apresentaram uma ambiguidade que envolveu alegria e tensão, associadas ao relaxamento entre o xingar melhor e rir de quem foi xingado e não reagiu no tempo ou na maneira certa. Nesses casos, a melhor opção era levar no bom humor.
Considerações finais
Destacamos que as batalhas de rima das crianças, aprendidas no contexto das ruas da Maré, se configuraram pelo uso da linguagem verbal e dos movimentos dos corpos, assinalando momentos de desafios, nos quais o objetivo maior era superar o outro, através de sua humilhação. Logo, a brincadeira externou um lado agressivo e, muitas vezes, cruel durante as disputas, a competência imposta exigia suportar os fortes vexames que surgem das rimas cantadas publicamente pelo adversário. Ao deferirem xingamentos, os oponentes faziam a peleja aumentar de intensidade, acelerando o ritmo do raciocínio requerido na elaboração de uma resposta improvisada à altura.
Essas ocasiões representavam situações de competição em que, de forma indireta, conflitos eram vivenciados, nos quais a intenção não era eliminar o adversário, apesar das ofensas, que deveriam ser levadas na esportiva. Eram momentos permeados por certa intimidade e ao mesmo tempo hostilidade, em que se notava uma espécie de jogo perverso, no qual o adversário era vencido ao ser “corretamente” (segundo as regras) “zoado” e humilhado. No entanto, o derrotado, na maioria das vezes, se erguia rapidamente para continuar o jogo, parecendo sair em busca da incessante e tão necessária autoafirmação.
É possível afirmar sobre o significativo nexo da brincadeira da batalha de rimas com os outros jogos de “zoar” que ocorrem na Maré, pois, nesse lugar, os jogos de disputa, tais quais as batalhas de rima, permitem exercitar a autoafirmação a partir da humilhação do rival, uma vez que a vida nesse território exige a força e o vigor da defesa da própria identidade. As crianças também são impelidas a exercitarem a disputa, tendo que se relacionar com os desafios do território, muitas vezes, convocadas desde pequenas a se impor e a reagir com potência durante as diversas interações perante outras crianças e os adultos do lugar. Durante as disputas, mesmo que visivelmente abaladas com as humilhações em público, as crianças sabiam que era parte do jogo e continuavam interagindo.
Entretanto, uma brincadeira que tinha como objetivo principal, segundo as crianças, “zoar” o outro, pela forma como o processo foi construído, envolvendo regras e duelos, possibilitou a experiência de discordar e chegar a um consenso. Nesse sentido, o jogo viabilizou que fossem além das expectativas iniciais, permitindo que as crianças refletissem sobre o tênue limite entre “zoar” e agredir.
Houve pequenos conflitos que poderiam ultrapassar o limite do xingamento da brincadeira para agressões físicas. A título de exemplo, em algumas circunstâncias, quando uma sequência de xingamento rimado era valorizada pelo júri, deixando o oponente humilhado e irritado, notou-se que o impulso inicial, muitas vezes, era tentar agredir o colega fisicamente. No entanto, quando chegava a esse ponto, o movimento brusco não passava de ameaças corporais, pois as regras construídas coletivamente foram eficazes para estabelecer o limite da brincadeira sem transformá-la em agressão física. As fronteiras não foram ultrapassadas, pois romper as barreiras poderia significar “uma guerra”, com agressões físicas que atingissem os laços de amizade, infringissem as regras e anulassem o prazer do brincar. Vale frisar que as regras foram construídas e avalizadas coletivamente pelas próprias crianças, e sua infração talvez correspondesse a mais uma derrota em público daquele que não sabe brincar.
Ao longo de todo o projeto, foi visível o envolvimento e a alegria das crianças no decorrer das batalhas. Elas experimentaram uma interessante experiência de criação, pois além da capacidade da criança de lidar com o improviso, realizaram o desafio de conseguir expressar suas ideias, encadeando o ritmo obrigatório desses jogos e, através disso, poder “zoar” o outro rimando.
Finalmente, destacamos o papel da escola que, com uma postura diferente, favorece a afinação e o entrosamento entre os funcionários dos diversos setores, propiciando um clima harmônico, no qual a cultura local mareense pode ser valorizada. Não houve nenhum empecilho para a realização da proposta que retrata o Hip Hop como uma manifestação de cultura de rua que, além de caracterizar uma forma de intervenção artística, permite um modo de vida e de expressão nos espaços públicos da favela. Ao fortalecer a cultura local, a escola incentiva as crianças a estarem na escola e perceberem esse espaço como um lugar em que se sentem acolhidas e reconhecidas nas suas práticas cotidianas e, sobretudo, a poderem estabelecer relações entre essas práticas e o aprendizado dos conteúdos formais.
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Resumo
Após dez meses de observações numa escola do complexo de favelas da Maré, percebemos a frequência com que algumas crianças do terceiro ano do ensino público costumavam rimar e suas maestrias durante a composição de seus versos. Com foco nos significados e repercussões nas interações e vínculos dessa turma, propusemos organizar “batalhas de rima”. Através de registros fotográficos, áudio e vídeos, foram registrados os momentos dos duelos para posterior análise. Assim, identificamos que as regras foram elementos centrais, pois, com base na disputa para manter a honra e autoestima, as batalhas evidenciaram o limite entre a agressividade e a fronteira do “zoar” e humilhar. Além disso, houve um significativo nexo da brincadeira de “batalha de rimas” com os jogos de “zoar” que ocorrem na Maré, em que se desenvolve um tipo de relação de disputa, humilhação e competição, mas também de capacidade de rimar, de autoafirmação, fantasia e prazer coletivo.
Palavras-chave: batalhas de rima, criança, escola, brincadeira, favela.
Data de recebimento: 19/12/2020
Data de aprovação: 22/02/2020
Batallas de rima de niñes de la Favela da Maré: improvisación, duelo y autoafirmación
Resumen
Después de diez meses de observaciones en una escuela del complejo de favelas de la Maré, observamos la frecuencia con que algunos niños del tercer año de la enseñanza pública acostumbraban a rimar, así como, sus destrezas en la composición de los versos. Nos centramos en los significados y las repercusiones de esto en las interacciones y vínculos que se daban en ese grupo y propusimos organizar «controversias con rimas». A través de registros fotográficos, audios y videos registramos los momentos de los duelos para su análisis posterior. Así, identificamos que las reglas fueron elementos centrales, pues con base en la disputa para mantener la honra y la autoestima, las controversias evidenciaron el límite entre la agresividad y la frontera de la «burla» y la humillación. Además de eso, hubo un sentido vinculante entre las «controversias de rimas» y las «burlas» lúdicas que se dan en la Maré, donde se desarrolla un tipo de relación de disputa, humillación y competencia. Pero, también, de capacidad de rimar, autoafirmación, fantasía y placer colectivo.
Palabras clave: controversias con rima, niño, escuela, juego, favela.
Rhyme battles with children from Favela da Maré: improvisation, duels and self-affirmation
Abstract
After ten months of observation at a public school in the the Maré favela complex, we noticed the frequency with which some children from the third year of public education used to rhyme and their mastery during the composition of these verses. Focusing on the meanings and repercussions of the interactions and social bonds of this class, we proposed to organize «rap battles». Through photographic, audio and video records, we registered the dueling moments for further analysis. Thus, we identified rules as central elements to these battles, because based on the dispute to maintain honor and self-esteem, the battles showed the limits between aggressiveness and the frontiers of “mocking” and humiliating. In addition to that, there was a significant nexus between the «rap battles» and the «mocking» games that take place in Maré, where a relationship based on dispute, humiliation and competition is developed, but where the ability to rhyme, self-affirmation, fantasy and collective joy are also present.
Keywords: rap battle, children, school, games, favela.