Escola de Inclusão da UFF

Todas as crianças na escola regular: políticas de inclusão

Lucia Lehmann: Você acha que a mídia, de um modo geral, focaliza essas crianças e jovens especiais? A mídia tem sido um veículo que dá visibilidade e permite uma conscientização da sociedade?

Cristina Delou: Não. A mídia só faz uso da imagem do especial quando ela vai tirar algum proveito disso. Algum programa social, algum benefício paralelo, mas não há nenhum interesse da mídia em levar esclarecimento. A mídia também não focaliza as crianças e jovens especiais no sentido de fazer uma programação e comunicação voltada para eles, porque, para isso, a mídia terá que se adequar, se adaptar. Como? As televisões teriam que fazer audiodescrição, adaptações da emissão, das formas de comunicação, para atingir os diferentes tipos de especiais. Isso tudo demanda equipamentos e profissionais especializados. Teriam que ter, por exemplo, inúmeros intérpretes de libras para todo tipo de programação. E é difícil ter um profissional de libras todo o tempo. Como será o vínculo deste intérprete e a formação? Quase não temos cursos de formação de libras, os cursos estão começando a surgir agora. O MEC está avaliando pessoas com pró-libras a nível de ensino médio e ensino superior. As pessoas que sabem libras aprenderam muitas vezes nas igrejas, nas práticas religiosas. Isso é muito grave e, ao mesmo tempo, um obstáculo do ponto de vista da mídia, que não tem os recursos compatíveis.

Lucia Lehmann: Você diz, então, que a mídia não tem recursos para atingir vários desses especiais e que também não os focaliza de uma maneira inclusiva, de uma maneira que dê visibilidade aos reais acontecimentos em relação a eles!?

Cristina Delou: Mesmo nos canais governamentais. Eles têm a pessoa falando libras, mas não têm audiodescrição, então os cegos estão fora.

Lucia Lehmann: O que você acha que seria o ideal para aumentar o conhecimento da sociedade em relação a essas crianças e para uma efetiva inclusão?

Cristina Delou: É continuar cativando as pessoas que ainda não conhecem o ambiente das políticas de inclusão. É acolher as pessoas que estão espontaneamente interessadas nessas políticas de inclusão, dando a elas o conhecimento necessário e possível. Ajudar as pessoas a saberem onde podem buscar mais formação para atuar nessa área, mostrando que a mudança social depende muito do nosso papel social. Cada um que chegar à escola vai encontrar um ambiente de resistência e tem um papel ali a desenvolver. Essa pessoa tem duas opções. Uma é aderir ao movimento de resistência que existe na escola. Ninguém precisa dizer que o professor ganha pouco, que as condições materiais de trabalho são inadequadas, que falta tudo dentro das escolas. Mas a gente pode fazer a opção de ser aquela pessoa que vai realizar os projetos, que vai construir as condições, porque as políticas existem, o dinheiro existe.

Lucia Lehmann: As políticas que estão presentes, como a inclusão de especiais em salas regulares, não são impositivas?

Cristina Delou: Não. Tanto não são, que não há penalidade para quem não as cumpre. Então, quem tem vontade de fazer um projeto, que faça, que traga o dinheiro para sua escola, que tire o dinheiro do caminho da corrupção, porque este é o nosso drama atual. Não se usa o dinheiro na inclusão, não se usa na educação, vai ser usado na corrupção! Então, que a gente faça a nossa parte. Os jovens estão sensíveis e atentos, mas eu estou me surpreendendo com muitas pessoas de mais idade que descobriram recentemente o que é uma política de inclusão e que estão vindo com tudo para trabalhar. E são elas que vão enfrentar a resistência da escola. A escola enquanto equipamento social é muito forte. Enfrentar essa força, essa resistência, mostrar com trabalho que a criança aprende no ritmo dela, do jeito dela, isso é de um valor social imenso, de um valor humanitário imenso. E é esse o nosso papel, porque hoje são essas famílias que precisam e amanhã a gente não sabe se somos nós que vamos precisar. A história dá muitas voltas, a vida dá muitas voltas. Quem combate, não valoriza ou não se importa hoje, pode precisar amanhã. É preciso pensar nisso. É a lei da física, lei de causa e efeito. Que a gente tenha consciência de que hoje é aquela pessoa que tem uma situação que necessita de atenção especial. Não sei se amanhã serei eu!
Palavras-chave: crianças, escolas, políticas de inclusão, LDB

Cristina Maria Carvalho Delou cristinadelou@id.uff.br
Cristina Maria Carvalho Delou. Professora Associada da Universidade Federal Fluminense. Psicóloga. Doutora em Educação. Coordenadora do Curso de Mestrado Profissional Diversidade e Inclusão e do Curso de Pós-Graduação Lato-Sensu Educação Especial e Inclusiva da UFF.
Lucia de Mello e Souza Lehmann lehmannlucia@gmail.com
Lucia de Mello e Souza Lehmann. Professora Adjunta da Universidade Federal Fluminense na Faculdade de Educação e no Curso de Mestrado Profissional Diversidade e Inclusão. Editora Associada da DESidades.