Análise do percurso
Apesar da abertura do colégio para a inserção de nosso projeto, tivemos alguns conflitos de atividades durante o período letivo, além de outros imprevistos, como greves externas, que acabaram afetando a continuidade dos encontros. Após algumas semanas afastados de dois grupos, pudemos perceber mudanças no investimento por parte dos estudantes e das extensionistas na continuidade do trabalho. Dois grupos ficaram sem encerramento e fechamento do trabalho (se é que ele se “fecharia”).
Ao longo dos anos de trabalho, ainda que tenhamos nos deparado com diversas dificuldades e impedimentos para uma continuidade, tivemos a oportunidade de ver, ouvir e trabalhar com os elementos que os estudantes nos traziam sobre suas próprias vivências e, mais do que isso, proporcionar um espaço de abertura e acolhimento onde eles próprios puderam se colocar e se identificar uns com os outros.
Apesar das especificidades existentes, muito do que é vivido durante esse período de preparação e realização dos exames vestibulares é experienciado de modo similar pelos estudantes de Ensino Médio. Desse modo, indo na contramão do caráter individualizante e solitário que o processo de preparação para o vestibular possui, a criação de um espaço de coletivização dessas experiências possibilitou aos jovens vestibulandos a formação de vínculos e de uma rede de apoio, como evidenciado em algumas falas registradas durante os encontros.
Sabe, esse momento é muito legal pra gente. É o único momento, acho, que tem da gente falar da gente (Mônica, 17 anos). Me sinto melhor só de saber que tem gente que sente o mesmo que eu (Lucas, 17 anos).Com a conversa de antes eu entendi que eu não preciso necessariamente entrar numa faculdade logo depois de terminar a escola (Carla, 17 anos).
Além dos ganhos enquanto coletivo, através do compartilhamento de pensamentos e experiências, os membros dos grupos também puderam repensar seus próprios processos, tendo a oportunidade de reinventar ativamente novos caminhos.
Considerações finais
A ação aqui exposta baseia-se na concepção de que o trabalho em ambientes educacionais não deve desconsiderar a implicação nos processos de saúde dos educandos, educadores e todos os outros sujeitos envolvidos no campo escolar. Firmada em uma noção ampla de saúde, a inserção da Psicologia nos processos educativos necessita desenvolver um olhar que considere a integralidade dos sujeitos, suas potencialidades e estratégias na lida com as situações adversas que vivenciam.
A atuação do projeto concretizou uma aproximação do campo de atuação da Psicologia Escolar, oferecendo reflexões e estudos a respeito da interseção da Psicologia com a Educação. O impacto social se deu pela construção coletiva de outros modos possíveis de experienciar a vivência do vestibular a partir de estratégias de enfrentamento para as dificuldades compartilhadas entre os estudantes. Foi possível promover a discussão sobre o processo que estavam vivendo, com incentivo ao questionamento da competitividade e da produção do fracasso escolar que prevalecem nos processos de escolarização hegemônicos e suas implicações. Nessa perspectiva, o trabalho oferecido foi direcionado à comunidade fora do meio acadêmico, oferecendo ações que ultrapassaram os muros da universidade e possibilitaram a articulação entre a academia e o meio social na produção de conhecimento e de práticas interventivas.
A criação de espaços de acolhimento e compartilhamento no ambiente escolar foi a maneira encontrada, considerando a aposta de saúde e educação aqui defendida, para possibilitar o desenvolvimento de intervenções voltadas para promoção de saúde. A escola como local composto por diversos agentes construtores do que se entende por processos educacionais convida à integração a partir de um trabalho que seja desenvolvido no coletivo. Entendemos, assim como em Melsert e Bicalho (2012), a diversidade de falas e trocas vivenciais oportunizadas pelo grupo, o que faz dele um espaço também de aprendizado.
Voltando o olhar para o processo de preparação dos vestibulandos, foco das intervenções anteriormente descritas, entende-se que muito do que é vivido durante esse período é experienciado de modo similar pelos estudantes de Ensino Médio, sendo importante que identifiquem que não trilham sozinhos esse percurso. Desse modo, indo na contramão do caráter individualizante e solitário que o processo de preparação para o vestibular possui, a criação de um espaço de coletivização dessas experiências possibilita a formação de vínculos e de uma rede de apoio.
As oficinas, como instrumento de trabalho, têm se mostrado como eficiente caminho de integração entre proponentes e estudantes do Ensino Médio por possibilitar uma participação ativa dos envolvidos. Oficinas dão a ideia de construção, um dos pilares do projeto de extensão aqui apresentado: um fazer em constante construção, feito por múltiplas mãos, que entendem que educação e saúde caminham junto.
Apesar de seus limites de atuação, como a abrangência estritamente local, a relevância desse projeto para os participantes não se baseou no recebimento passivo de técnicas e saberes psi. Ao contrário, acreditamos serem os próprios estudantes os maiores conhecedores de si, podendo produzir ativamente espaços de acolhimento e abertura, propícios à troca e à experimentação, onde eles mesmos possam se desenvolver e trilhar juntos novos modos de caminhar.
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Resumo
O processo de entrada no Ensino Superior no Brasil, conhecido como vestibular, é socialmente encarado como uma etapa essencial para a inserção dos jovens na vida adulta, sendo capaz de gerar grande impacto na saúde dos estudantes que se preparam para tal. O presente artigo discute a respeito de uma concepção de saúde e seu vínculo com a experiência educacional, abordando vivências de um Projeto de Extensão em Psicologia da Universidade Federal Fluminense, realizado em um colégio federal em Niterói-RJ com estudantes vestibulandos. A partir deste trabalho, buscou-se que os alunos se sentissem estimulados a pensar sobre o processo que vivenciavam, tomando a oficina e o grupo como dispositivos para a promoção de saúde na escola. O percurso do projeto contribuiu para o entendimento de que o coletivo opera, de fato, transformações no singular, possibilitando a construção de estratégias de enfrentamento e a potencialização desses jovens diante do processo vivenciado.
Palavras-chave: vestibular, escola, promoção de saúde oficina.
Reflexiones sobre promoción de salud en la escuela: inventos y posibilidades de un proyecto de extensión universitaria
Resumen
Los exámenes de ingreso son vistos socialmente en Brasil como un paso esencial para la inserción de los jóvenes a la vida adulta, y pueden generar un gran impacto en la salud de los estudiantes que se preparan para ellos. Este artículo discute sobre una concepción de salud y su vínculo con la experiencia educativa. Para eso se abordaron algunas experiencias de un Proyecto de Extensión en Psicología de la Universidade Federal Fluminense, realizado en un colegio federal en Niterói-RJ, con estudiantes preparándose para el examen de ingreso. Con este trabajo, se buscó que los estudiantes pensaran en el proceso que vivían, utilizando el taller y el grupo como dispositivos de promoción de la salud. El transcurso del proyecto contribuyó a entender que el colectivo opera transformaciones en cada uno de sus participantes, posibilitando la construcción de estrategias de afrontamiento y el empoderamiento de estos jóvenes frente al proceso vivido.
Palabras-clave: examen de ingresso, escuela, promoción de la salud, taller.
Reflections on health promotion at school: inventions and possibilities of an university extension project
Abstract
The entrance exam for university education in Brazil is socially seen as an essential step for young people insertion into adult life and can strongly impact students’ health while preparing for it. This article discusses a concept of health and its link with the educational experience, based on experiences held at a federal high school institution in Niterói-RJ with undergraduate students, organised by an Extension Project in Psychology from Universidade Federal Fluminense. Workshops and group interaction were used as devices to promote health in the school environment in a way that students felt encouraged to think about the process they were experiencing. This project contributed to understanding how group interaction transforms its participants and enables the empowerment of young people facing the entrance exams and construction of coping strategies to deal with its challenges.
Keywords: entrance exam, school, health promotion, workshop.
Data de recebimento: 28/05/2021
Data de aprovação: 30/08/2021