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Bullying e associação de comportamentos de risco entre adolescentes da Região Norte: um estudo a partir da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, 2015.

Resultados

Os resultados da PeNSE de 2015 contaram com um universo de 102.301 adolescentes. Os dados da região norte que compuseram a amostra deste estudo representaram 24,3% do total nacional e foi composta por 23.977 estudantes de 714 escolas localizadas nos sete estados da região. Em relação às características sociodemográficas, observou-se que, quanto ao sexo, metade (51,4%) dos adolescentes eram do sexo feminino, com idades na faixa etária de 11 a 14 anos (64,7%). A maioria (89,2%) dos adolescentes participantes desta investigação estava regularmente matriculada em escolas públicas, autodeclarava-se pertencente à cor/raça parda (56,4%) e tinha mães com o grau de escolaridade de ensino fundamental completo e ensino médio/superior incompleto (47,1%) (Tabela 1).

Figura 1. Caracterização sociodemográfica de adolescentes que participaram da amostra, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, Região Norte, Brasil, 2015.

Os dados evidenciaram que a prevalência entre os adolescentes escolares da região norte vitimadas pelo bullying verbal foi de 4,3% (IC95% 3,86–4,72); entre aqueles que praticam bullying, denominados como perpetradores, foi de 15,9% (IC95% 15,02–16,87); e entre aqueles que eram vítimas e perpetradores do bullying, revelou-se a prevalência de 2,0% (IC95% 1,70 – 2,23).

Todas as variáveis sociodemográficas avaliadas apresentaram associações significativas com as categorias de bullying. Destacaram-se: maior prevalência de perpetradores entre os adolescentes do sexo masculino (19,2% comparado com 12,9% com as do sexo feminino); maior prevalência de vítimas entre os de cor/raça amarelo (7,4% comparados os pardos, brancos e indígenas, com aproximadamente 4% cada); e a maior prevalência de vítima (5,0%) e vítima/perpetrador (2,4%) foi observada entre os adolescentes cujas mães não tinham nenhuma escolaridade ou ensino fundamental incompleto (Tabela 2).

Figura 2. Tabela 2. Distribuição da adesão de comportamentos de riscos à saúde e vulnerabilidades de adolescentes, segundo as categorias de Bullying, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, Região Norte, Brasil, 2015.

Os dados da Tabela 3 evidenciaram que houve associação entre todas as variáveis de comportamento de risco e vulnerabilidades dos adolescentes com as categorias de bullying, com destaque para: maior frequência de perpetradores entre os etilistas (24,4% vs. 13,9% nos não etilistas); entre os tabagistas (32,2% vs. 14,9%), usuários de drogas (38,0% vs. 15,2%) e entre os que não usavam preservativos regularmente (27,2% vs. 14,5%). As prevalências de vítimas/perpetrador também foram maiores, com destaque para uso de drogas (6,5% vs. 1,8%) e uso de álcool (4,1% vs. 1,8%).

Figura 3. Distribuição da adesão de comportamentos de riscos à saúde e vulnerabilidades de adolescentes, segundo as categorias de Bullying, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, Região Norte, Brasil, 2015.

Observou-se que todas as categorias de bullying assumiram pelo menos um comportamento de risco (Tabela 4). Pouco menos da metade (47%) dos adolescentes acumularam quatro comportamentos de risco. Houve associação entre todos os desfechos de comportamento de risco com as categorias de bullying, com destaque para maior frequência entre as vítimas com acúmulo de três comportamentos de risco (6,1%). Em relação aos perpetradores e às vítimas/perpetradores também foram maiores para o acúmulo de quatro comportamentos de risco (37,5% e 6,7%, respectivamente).

Figura 4. Distribuição da adesão de comportamentos de riscos à saúde e vulnerabilidades de adolescentes, segundo as categorias de Bullying, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, Região Norte, Brasil, 2015.

No que tange às associações entre as categorias de bullying e a adesão de comportamentos de risco ajustados por variáveis sociodemográficas (Tabela 5), os perpetradores, comparados com quem não sofre nem prática bullying, apresentaram maior chance de aderirem três (OR=3,22; 1,35–7,69) e quatro (OR=4,04; 1,69–9,66) comportamentos de risco simultâneos. Não foi observada associação significativa entre a adesão de comportamentos de risco com as demais categorias de bullying.

Renata Ferreira dos Santos rfdsantos@uea.edu.br

Doutora em Saúde Coletiva (UERJ), Brasil. Possui graduação em Enfermagem pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Brasil. Professora adjunta da Universidade do Estado do Amazonas e enfermeira assistencial do Instituto de Intensivista do Amazonas (IETI), Brasil. Pesquisadora do Laboratório de Estudos Epidemiológicos com população Amazônica (LAEP-UEA), Brasil. Atua na área de Enfermagem, com ênfase em Enfermagem em Saúde do Neonato, Criança e do Adolescente.

Eliseu Verly Junior eliseujunior@gmail.com

Possui graduação em Nutrição pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Minas Gerais, Brasil; mestrado e doutorado em Nutrição em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP), Brasil. Com experiência em análise de banco de dados e trabalhos de campo. Atualmente é professor adjunto do Departamento de Epidemiologia do Instituto de Medicina Social da UERJ, Brasil; Procientista (UERJ) e Jovem Cientista do Nosso Estado (FAPERJ), Brasil.